CENTRO DE TECNOLOGIA EM COMISSIONAMENTO

CENTRO DE TECNOLOGIA EM COMISSIONAMENTO

A Brastorno está na reta final para consolidar o Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) instalado em um dos garimpos associados à Cooperativa de Desenvolvimentos Minerais de Poconé – Cooper Poconé, no Mato Grosso. O projeto é mais conhecido como Pelicano, em referência ao nome do reator de lixiviação intensiva fabricado pela Brastorno, que integra a planta de beneficiamento.

O equipamento recebe o concentrado de minério de uma centrífuga e realiza sua lixiviação, recuperando o ouro nele contido. A novidade é o uso de cianeto de sódio, em substituição ao mercúrio, no processo. “Hoje, no Brasil, não existe outro projeto com essa finalidade e o mesmo padrão de eficiência, para atender integralmente à realidade de garimpos e pequenas operações minerais”, assegura Igor Justino Fernandes, CEO da Brastorno.

Igor Justino Fernandes
Igor Justino Fernandes, CEO da Brastorno

O CDT possui LI e LO (licenças de instalação e operação), além de autorização do Exército Brasileiro para importação e utilização do cianeto de sódio. A substituição do mercúrio ainda enfrenta a resistência dos garimpeiros, daí a importância do apoio de cooperativas a novas tecnologias como a da Brastorno. “As cooperativas de garimpeiros têm esse papel de mudar a cultura tradicional da atividade. Com o apoio da Cooper Poconé, conseguimos instalar e estamos comissionando o CDT, que será entregue pronto para ser operado. Inclusive com treinamento dos funcionários e equipamentos de segurança”, diz Fernandes. Entre esses equipamentos estão, por exemplo, um lavador de olhos e um detector de gás, usuais em grandes mineradoras, mas que não fazem parte do universo do garimpo. A fabricante investe sozinha no projeto, sem nenhum incentivo ou ajuda governamental.

Ajustes

Além de confiar no método tradicional de recuperação do ouro através do mercúrio, outro desafio precisou ser superado na nova planta de beneficiamento: a necessidade de obtenção diária de ouro pelo garimpeiro para sua venda, garantindo liquidez de capital para a manutenção do garimpo. Hoje, após alguns ajustes e com o desenvolvimento de aceleradores de cinética (TurbO2), a entrega diária de ouro já é possível e a meta, agora bastante próxima de ser alcançada, é obter uma taxa de recuperação entre 93% e 95%, a mesma verificada em grandes mineradoras, diz Fernandes.

Outra complicação do processo é lidar com os baixos teores do ouro extraído em garimpos, que tornam qualquer perda significativa, por mínima que seja. Segundo Fernandes, para uma grande mineradora, onde a taxa de alimentação do reator é de mais de mil gramas por batelada, a perda de 3%, por exemplo, é irrelevante. No garimpo, um grama de ouro perdido pode equivaler a até 5% da alimentação por batelada, dependendo do teor do ouro recebido. “Queremos chegar a 0,5 grama de perda, no máximo. Feito esse ajuste, teremos um reator de excelência para operações minerais de pequeno e também de grande porte”, acredita o executivo. Para atingir essa performance, a operação conta com um laboratório de processo e com um grupo de técnicos dedicados em Poconé, que realizam análises do material de hora em hora, além de um laboratório de apoio em Belo Horizonte (MG).

Outro aperfeiçoamento desenvolvido pela Brastorno para o CDT, com consultoria da Engeproj, empresa de engenharia, é o ElectroTrat, equipamento que reduz os níveis de cianeto contidos na água de processo entre 90% e 95%, antes de seu descarte, através de eletrofloculação. O abate dos níveis restantes (5-10%) é realizado com o uso de produtos químicos, como o peróxido de hidrogênio (H2O2). “Assim fechamos o ciclo de processo: aumento da recuperação do metal, lixiviação sem mercúrio e tratamento do efluente para descarte”, conclui Fernandes.

Histórico

Sediada em Lagoa Santa, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte (MG), a Brastorno é uma empresa familiar fundada há 33 anos por Sebastião Justino, tio de Fernandes. O atual CEO trabalha na fábrica desde seus 12 anos, tendo saído para cursar Engenharia e atuado em outras empresas, retornando em 2010. Iniciada para a prestação de serviços de usinagem, a Brastorno passou a fabricar equipamentos de mineração, suprindo uma lacuna do mercado brasileiro, após uma parceria com o Centro de Desenvolvimento Tecnológico, da Vale, em Minas Gerais.

Sua marca acabou se tornando referência em equipamentos de preparação de amostras para laboratórios de análises minerais e em plantas piloto para simulação de processos de beneficiamento de níquel, cobre, ouro e minério de ferro, entre outros. Hoje, seus equipamentos operam em grandes empresas no Brasil e em outros países, com destaque para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da ArcelorMittal, na França.

O interesse de Fernandes pelo garimpo surgiu entre 2014 e 2015, após contato com Pablo Cejas, especialista em concentração de minérios, que o levou para conhecer a atividade. Juntos desenvolveram a centrífuga Conspeed, lançada durante a Exposibram 2017, com a proposta de obter maiores percentuais de recuperação de ouro, em relação a equipamentos similares nacionais e canadenses, então disponíveis no mercado.

CDT-Garimpo
CDT instalado em garimpo de ouro associado à Cooper Poconé

Em 2017, em uma das viagens para divulgar a Conspeed, Fernandes tomou a decisão de desenvolver um equipamento específico para reduzir ou eliminar o uso de mercúrio no garimpo. Por indicação de Cejas, contatou Walter de Moura, metalurgista conhecido de grandes mineradoras de ouro, que já tinha um projeto piloto do reator Pelicano. “Fizemos alguns protótipos que não foram bem-sucedidos, muito em função das diferenças entre a realidade das grandes mineradoras de ouro e as operações de garimpo, em especial na qualidade do concentrado quanto a lamas, granulometrias e teores de minério”, lembra o CEO.

Desse início até o atual CDT, em Poconé, Fernandes reconhece que chegou a repensar a continuidade do projeto em vários momentos, em especial durante a pandemia de Covid-19, devido à dificuldade de investimento diante da redução do fluxo de caixa da Brastorno, cujos clientes passaram a postergar os prazos de pagamento de suas aquisições. “Foi o nosso propósito maior de fazer a diferença para esses pequenos mineradores, junto a toda uma rede de apoio que foi criada, com destaque para nossos parceiros no Mato Grosso – Cooper Poconé e MJM Engenharia -, que nos fez insistir nessa ideia”, conclui o executivo.

Foto em destaque: Pelicano, reator intensivo de lixiviação
Fotos: Divulgação/Brastorno

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