ESTRATÉGIAS PARA A DESCARBONIZAÇÃO

ESTRATÉGIAS PARA A DESCARBONIZAÇÃO

Segundo um estudo realizado pela consultoria McKinsey, a mineração responde por cerda de 7% das emissões diretas globais de Gases de Efeito Estufa (GEE). Se consideradas as emissões indiretas, a estimativa sobe para 28%. Em outro estudo, a Organização das Nações Unidas (ONU) indica que a mineração causa cerca de 10% das emissões antropogênicas, que aumentam o risco de calor extremo no planeta.

Não é sem razão, assim, que o relatório Business Risks and Opportunities facing M&M companies, da Ernest & Young, considera que os dois principais riscos para a mineração, em 2022, são os ambientais e sociais, enquanto as principais oportunidades estão na descarbonização. Para a consultoria, um bom desempenho em meio ambiente, social e em descarbonização provavelmente levará a um melhor acesso ao capital, bem como uma licença de operação mais robusta.

É certo que tecnologias mais sustentáveis para a redução ou mesmo a neutralização das emissões de GEE são mais facilmente incorporadas a projetos greenfield. Mas operações minerais já consolidadas e com vida útil de médio e longo prazo, para diluição dos investimentos necessários – que não são de baixo montante -, podem evoluir na atualização de seus ativos, processos e instalações, realizando uma transição segura matrizes energéticas renováveis.

O uso de energia solar, a otimização da logística interna de transporte, a eletrificação de frotas e a adoção de biocombustíveis estão entre as iniciativas destacadas pela Aura Minerals, CBA e Nexa em direção ao propósito de reduzir as emissões de GEE, tornando suas operações mais descarbonizadas.

Projeto de energia solar na Mineração Apoena
Projeto de energia solar na Mineração Apoena

Energia solar

A produtora de ouro Aura Minerals investiu R$ 130 mil no projeto de melhoria e expansão do sistema de geração de energia solar na Mineração Apoena, em Pontes e Lacerda (MT). A instalação substituiu os geradores a diesel usados na torre de telecomunicação da empresa. Em 2020, a diretoria da companhia já havia aprovado um projeto piloto para a instalação de painéis solares na área administrativa da Apoena, com 565 kWp (quilowatt-pico) de capacidade total de geração. O empreendimento foi implementado em 2021, gerando 70.156 kWh de energia e eliminando a emissão de20,7 t/mês de CO2.

Hoje, a maior parte das emissões da Aura é composta pelos gases CO2 – dióxido de carbono (95%) e N2O – óxido nitroso (2,5%). O uso de diesel é responsável por 45% das emissões, concentrado principalmente das atividades de carregamento e transporte de minério e de perfuração. Na sequência estão a energia elétrica (37%) e o uso de cimentos para a operação de backfill nas minas subterrâneas, considerado como emissão de escopo 3.

 

Paula Choinski

Paula Choinski, gerente de Inovação e ESG da Aura, diz que a companhia tem como meta de curto prazo reduzir 5% das emissões absolutas nas operações ativas até 2023. “Para isso definimos quatro linhas de ação: o treinamento de operadores, que pode reduzir em 3% o consumo de combustível nos equipamentos; a otimização da frota, desde a gestão das rotas de transporte interno nas minas até a gestão do tempo de uso de máquina; a adoção de uma frota leve elétrica; e a automação de bombas e ventiladores das minas. Os processos serão adotados nas operações a céu aberto e subterrâneas da Aura.

“Essa estratégia considera o custo/ benefício, com base na marginal abatement curve. Ou seja, comparamos o custo/benefício de diversas inciativas, avaliando o potencial de redução de emissões de cada uma com os custos para sua implementação e operação. Com base nessa análise, optamos por definir um compromisso de curto prazo, elegendo medidas que geram benefícios com baixo investimento. Maiores investimentos serão estudados em breve”, justifica a gerente.

A Aura provisionou recursos de cerca de US$ 200 mil, entre 2022 e 2023, para seus projetos de redução de emissões. Para Paula, há dois desafios principais no cumprimento de metas com esse objetivo. A primeira delas é a priorização de investimentos em ESG – que nem sempre trazem um retorno financeiro claro -, em detrimento de investimentos operacionais. O segundo, na área de ESG como um todo, é a priorização do investimento para iniciativas de sustentabilidade, visto que há várias demandas a serem atendidas também nas áreas social, ambiental e de governança.

Unidade de Produção a Vapor em refinaria da CBA
Unidade de Produção a Vapor em refinaria da CBA

Vapor de biomassa

A Companhia Brasileira de Alumínio – CBA já registra resultados positivos na redução de emissões de CO2e (dióxido de carbono equivalente) em seu processo de eletrólise desde 2019. Nesse ano, foram emitidas 2,56 tCO2e para cada tonelada de óxido de alumínio líquido produzido, de acordo com os escopos 1 e 2 do método GHG Protocol. A média mundial é de 12 tCO2e para cada tonelada de óxido de alumínio líquido produzido.

A empresa possui a certificação da Aluminium Stewardship Initiative (ASI) nos Padrões de Performance e de Cadeia de Custódia (CoC) em três unidades de mineração de bauxita de Minas Gerais; em todo o processo produtivo de sua planta industrial de Alumínio (SP); no escritório corporativo de São Paulo (SP); e em todos os produtos de seu portfólio. O Padrão de Performance ASI define princípios e critérios ambientais, sociais e de governança, com foco na sustentabilidade em todas as etapas da cadeia de valor do alumínio. A certificação avalia 59 critérios, incluindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Entre os projetos que possibilitaram a conquista da certificação está a substituição de duas caldeiras movidas a partir da queima de óleo ou gás natural por uma Unidade de Produção de Vapor (UPV), que utiliza biomassa – cavaco de madeira de eucalipto plantado em área de reflorestamento. Com a implementação desse projeto, em março de 2020, a refinaria de alumina da CBA foi a primeira no mundo a utilizar 100% de vapor originado de biomassa como fonte enérgica.

No mesmo ano em que a UPV foi instalada, a emissão de CO2e foi de 0,31 t contra 0,55 t, em 2019, para cada tonelada de alumina produzida, uma redução de 43%. Nos dois anos, em todo caso, o volume de emissões está bem abaixo da média global de emissão de GEE para produção de alumina, de 1,21 tCO2e. O resultado de 2020 ficou abaixo, ainda, da média de emissão na América do Norte (continente com menor emissão de GEE nesse processo), que é de 0,55 tCO2e.

Fontes renováveis

 Em 2020, as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) da Nexa totalizaram 1.779.615,67 tCO2e, 75% superiores às registradas em 2019 (1.017.744,42 tCO2e). O aumento é atribuído à utilização da ferramenta de cálculo GHG Protocol em todas as unidades operacionais da empresa, resultando num levantamento mais detalhado das fontes de consumo de energia e das emissões de GEE.

A Nexa tem priorizado o uso de energias renováveis e uma das frentes dessa decisão são os projetos de autoprodução solar de energia elétrica em substituição à energia adquirida de terceiros no mercado livre, o que tornará a empresa 100% autossuficiente e renovável no Brasil. Soma-se a esses projetos o portfólio já consolidado de geração hidrelétrica, em empreendimentos próprios ou por meio de consórcios, que responde por 90% do consumo de energia elétrica do grupo. Dessa forma, em 2020, 98,5% da matriz energética já tinha origem em fontes renováveis.

Com relação às emissões de GEE, a Nexa vem desenvolvendo vários projetos de inovação para a redução do consumo de diesel em máquinas automotivas com a injeção de hidrogênio, a substituição de óleo combustível por bio-óleo de biomassa na produção de óxido de zinco na unidade Três Marias (MG) e a implantação da caldeira com gás de síntese de resíduos industriais em parceria com a start-up ZEG na unidade de Juiz de Fora (MG). Também nessa última cidade, outra iniciativa é a descarbonização do forno Waelz, utilizado na reciclagem de pó de aciarias elétricas, com a substituição do coque de petróleo por um biocombustível, que é o objeto de pesquisas em realização por start-ups e centros de pesquisa parceiros da Nexa.

Foto no destaque: Três Marias, da Nexa: bio-óleo na produção de óxido de zinco

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.