UM RECORDISTA NA LISTAGEM DE MINERADORAS EM BOLSAS

UM RECORDISTA NA LISTAGEM DE MINERADORAS EM BOLSAS

Da descoberta da mineração no Alasca (EUA) à formação como geólogo. Da discordância com advogados do setor mineral ao curso de Direito. Da participação acionária em projeto de uma junior company à abertura de seis minas, partindo para a sétima. A personalidade naturalmente inquieta e a multifuncionalidade, em parte herdada do empreendedorismo do pai, levaram o fluminense de Campos (RJ) às maiores bolsas de valores para mineração do mundo: Toronto (Canadá), Londres (UK) e Sidney (Austrália).

No trânsito livre e desembaraçado por esses distintos círculos, ele alcançou um marco inédito no Brasil – e raro no mundo: 14 listagens bem sucedidas das empresas que criou sozinho ou em parceria com investidores nacionais e estrangeiros. Conhecido de grandes fundos multinacionais de financiamento, parece depositário de sua “confiança irrestrita”, como diz. A afirmação tem respaldo na recomendação feita a investidores por Evy Hambro, co-gerente da BlackRock World Mining: “Se você quer vir para o Brasil, deve fazer negócios com Luís”. Também foi considerado pela revista Global Mining Observer, em 2017 e 2019, um dos três brasileiros da seleta lista de 50 principais executivos globais de mineração, ao lado de Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale, e de Ruben Fernandes, então CEO da Anglo American Brasil.

“Luís” é Luís Maurício Ferraiuoli Azevedo, geólogo, advogado e sócio-fundador da FFA Legal. E empresário: hoje, é presidente e CEO da Bravo Mining; acionista da Harvest Minerals e da Jangada Mines; e fundador de duas novas companhias – a Smart Lithium e a Scant, responsáveis, respectivamente, por projetos de lítio e terras raras em fase de pesquisa. Presença infalível em todos os fóruns minerais, o executivo é também presidente da ABPM – Associação Brasileira de Pesquisa Mineral, de cuja criação participou.

 Nesta entrevista exclusiva à revista In the Mine, Azevedo fala de sua trajetória profissional e empreendimentos minerários. Assegura que não há segredo em seu sucesso no mercado de capitais e explica o conceito de atuação da FFA Legal. Como não poderia deixar de ser, exerce com firmeza seu senso crítico, por vezes polêmico, quando perguntado sobre temas diversos da mineração no Brasil. Nada lhe escapa e tudo merece sua aguçada análise. A jovens geólogos e bacharéis em Direito faz a mesma recomendação que dá a todos que ingressam em suas empresas: “Você chegou aqui por conta de seu talento. Mas ficará aqui por conta de seu esforço”.    

ITM: Como sua trajetória profissional evoluiu da Geologia para o Direito, chegando a empresário de mineração?

Azevedo: Tenho a característica de ser um pouco inquieto, mas nunca planejei essa trajetória. Eu morava em Campos, interior do Rio de Janeiro, e comecei a trabalhar muito cedo com meu pai, que era um empreendedor. Fundou o primeiro supermercado da cidade, partiu para posto de gasolina, churrascaria, fazenda e outros negócios. A multifuncionalidade que tenho vem um pouco dele. Com 15 anos fui para os Estados Unidos (EUA), sendo o primeiro estudante de minha cidade a morar nesse país. Meu pai e família paterna são americanos e, entre os lugares onde me levaram para caçar, estava o Alasca. Lá conheci a mineração e, quando voltei ao Brasil, estava decidido a cursar Geologia. Com três meses de faculdade, consegui um estágio na área de Geologia Ambiental, em um grupo de empresas do setor de barragens. Cheguei a trabalhar com Carlos Minc, já um dos ícones do ambientalismo ainda emergente, aliando meio ambiente a outras atividades. Na sequência participei de uma seleção de trainees da Western Mining Corporation (WMC), sendo o primeiro aluno de minha turma a ter uma garantia de emprego depois do curso.

ITM: Mesmo já trabalhando como geólogo, resolveu estudar Direito?

Azevedo: Sim. Comecei a perceber que os advogados do setor tinham uma concepção própria da mineração, que se confrontava com a do geólogo. Decidi então cursar Direito para fazer valer a minha concepção. Era também a época da Assembleia Constituinte, que iria elaborar a nova Constituição do Brasil, e os geólogos falavam em uma linguagem que os constituintes, advogados ou, no mínimo, com certo conhecimento das normas legais, não entendiam. Então, vi como o Direito era necessário para discutir a política de regulação do setor mineral, em especial, para evitar a restrição do capital estrangeiro na mineração pela Constituinte. Entrei na faculdade em 1988 e me formei em 1992. Nesse período, o Brasil passou por modificações profundas, inclusive com a restrição ao capital estrangeiro, que seria suprimida somente em 1995. Foi também quando participei da descoberta de uma mina da WMC, desde a fase inicial até o desenvolvimento do projeto. Essa oportunidade foi determinante para minha vida profissional. Fui uma das poucas pessoas no Brasil a se envolver com a descoberta de seis minas, indo agora para a sétima. Em duas delas, pelo menos, a ideia foi exclusivamente minha.

ITM: Como foi a descoberta dessas duas minas?

Azevedo: Em uma delas, eu soube da abertura do mercado de urânio no Brasil e decidi me antecipar a essa situação. Um ditado da minha cidade diz que “o boi que chega com a manada toma água suja”. Fundei uma companhia com essa finalidade, mas a abertura não aconteceu. Como nosso depósito servia também ao setor de fertilizantes, mudamos nosso foco e criamos o projeto Rio Verde Minerals, de fosfato, atraindo grupos tradicionais de mineração, como o Santa Elina, e o banco BTG Pactual, além do executivo Roger Agnelli, que havia acabado de deixar a presidência da Vale. Hoje, a Rio Verde Minerals é operada pela Cargill, em Castanhal (PA).

ITM: E quanto ao segundo projeto?

Azevedo: É o da Harvest Minerals, também de fosfato, concebido por mim e no qual permaneço como acionista. A Harvest produz o fertilizante KP Fértil, que concorre diretamente com os fertilizantes tradicionais. Nosso produto sofre a pressão dos preços de mercado, atualmente em baixa, e ainda enfrenta a dúvida do agricultor em relação a um remineralizador alternativo. Ele é 100% orgânico, produzido em uma mina carbono neutro, abastecida por energia solar e sem geração de resíduos. O que tem sido gratificante para nós é constatar que os agricultores que apostam em nosso fertilizante encontram uma solução mais barata, mais eficiente e que gera alimento de forma muito mais limpa.

ITM: Além da Harvest, a quais empresas de mineração o senhor está relacionado?

Azevedo: Hoje, sou presidente e CEO da Bravo Mining que, embora fundada em 2022, no pior momento da indústria brasileira, conseguiu levantar capital nesse ano e novamente em 2023. Ao longo desses 18 meses, ela foi escolhida duas vezes como empresa de exploração mineral do ano no Brasil; realizou mais de 60 mil m de sondagens sem um acidente; e foi eleita pela Bolsa de Valores de Toronto (TSX) como melhor IPO (Oferta Pública Inicial) de 2022. Em 19 de janeiro passado foi considerada melhor empresa do ano pela OTC, mercado secundário americano de junior companies. É uma empresa com grandes acionistas como a BlackRock, RCF Opportunities Fund e Tembo Capital, que conhecem o Brasil e conhecem mineração. Sou acionista também da Jangada Mines, que possui um ativo de ferro-vanádio no Ceará (CE). Agora, estou iniciando dois projetos – de lítio e terras raras -, junto a outros empresários. Já recebi propostas de associação, mas acredito que nós mesmos faremos sua listagem em bolsa, aproveitando minha experiência de 14 listagens bem sucedidas.

ITM: Qual é e em que fase está o projeto da Bravo Mining?

Azevedo: Na Bravo temos o projeto Luanga, de platinóides e níquel, em Curionópolis (PA). Queremos concluir os estudos de pesquisa neste ano (2024) e partir para a fase de desenvolvimento nos próximos três ou quatro anos. Por um combinado de interesse e conceito, buscamos um processo de verticalização da produção do metal, nos associando a outra empresa que assumiria essa etapa. Será um bom negócio: os PGMs (metais do grupo da platina) foram os primeiros produtos usados na descarbonização de motores de combustão há cerca de 20 anos, o que nos assegura mercado hoje. Além disso, Luanga é um dos maiores depósitos do mundo, com cerca de 200 Mt de recursos.

ITM: E os projetos de lítio e terras raras? Em que fase se encontram?

Azevedo: O projeto de lítio é o Smart Lithium, desenvolvido em parceria com um jovem empresário brasileiro da construção civil. O de terras raras, iniciado há cerca de 60 dias com empresários brasileiros e estrangeiros, chama-se Scant e possui quase 70 mil ha de áreas requeridas e cerca de 20 pessoas trabalhando. Não definimos ainda onde serão suas sedes. O Smart Lithium, provavelmente ficará no Vale do Lítio (MG). Para o Scant pode ser São Paulo, Goiás ou Paraná, onde estamos realizando as pesquisas.

 ITM: Voltando às listagens em bolsas de valores, qual é o segredo desse sucesso?

Azevedo: Não há nenhum segredo. O fator mais importante é ter a confiança do investidor internacional. Conseguimos essa confiança a partir de um misto de fatores, principalmente tentando não fazer nada que não tenha mérito. Costumamos assumir o primeiro risco geológico do projeto e apostamos menos no nosso “talento” e mais em nossa resiliência. Se o projeto não der certo, buscaremos outra opção. Também temos transparência total e gestão aberta, a ponto de dividirmos com o investidor todas as novas oportunidades que encontramos. Costumo dizer que é uma confiança irrestrita. Já listei companhias em três mercados – Canadá, Reino Unido e Austrália -, algo que ninguém fez até hoje no Brasil e muito poucas pessoas fizeram no mundo. E ainda espero listar uma empresa na bolsa de valores do meu país.

ITM: Quais são suas críticas à regulação do setor mineral no Brasil?

Azevedo: Há cinco anos, minha crítica era o modelo regulatório ambiental. Hoje, eu critico a ANM, que considero talvez o maior obstáculo à entrada de investimentos na mineração do país. Lamento que o Brasil ainda funcione sob a pressão do interessado, quando deveria ter uma máquina pública ajustada ao cumprimento de suas atribuições. Briguei muito no Congresso Nacional pela criação da ANM, que foi uma evolução. Mas hoje a agência é menos eficiente que o antigo DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), em termos de resultados. Não entendo como, num mundo com IA (Inteligência Artificial) e Internet via satélite, não se consegue fazer um leilão de áreas em disponibilidade.

ITM: Como é a atuação de sua empresa jurídica, a FFA Legal?

Azevedo: O conceito da FFA continua o mesmo de sua criação: ser uma solução tropicalizada para o empreendedor que vem investir no Brasil, disponibilizando a melhor expertise com um custo competitivo. Esse empreendedor vai precisar de estrutura física e funcional, mesmo sem ter certeza da viabilidade de seu projeto. Nós disponibilizamos essa estrutura e atendemos a outras demandas. Podemos criar um modelo como o que uso em minhas empresas, com sede no mesmo local da operação, ou manter um back office de serviços para atender às necessidades do cliente. Sempre com muito profissionalismo, transparência e confiança, garantidos por uma equipe que já nos acompanha há 20 anos.

ITM: Quais as principais demandas desses investidores hoje?

Azevedo: Uma demanda usual é a busca por oportunidades de desenvolvimento de projetos, desde as tradicionais – encontrar áreas com ambientes geológicos favoráveis -, como a de adquirir propriedades. Na FFA buscamos unir comprador e vendedor, encontrando a melhor solução para ambos. Nosso princípio é que o negócio é do cliente e ele é quem define onde quer ir, até porque sabe o grau de risco e tolerância que pode aceitar. Nossa função é blindar o máximo possível o grau de risco que ele assume.

ITM: É complicado fazer essa blindagem?

Azevedo: Infelizmente, no Brasil, vem ocorrendo uma aceleração das licenças sociais e nem o órgão administrativo, nem o Judiciário, se desincumbem de forma ágil de suas funções. O Judiciário está assoberbado de casos e antes de partir para uma ação que pode demorar 20 anos para ter seu desfecho, o melhor é tentar criar pontes. Em 2022, por exemplo, reunimos em uma mesma ação civil pública o Ministério Público (MP), o órgão ambiental do estado, a FUNAI (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), o INCRA (órgão federal de reforma agrária) e as comunidades afetadas pelo projeto – assentados e indígenas. Acabamos chegando a um acordão que, acho, foi inédito no Brasil. Não é só uma nova forma de fazer negócio, como também uma nova forma de convivência.

ITM: As bandeiras da ABPM evoluíram nos últimos anos?
Azevedo: Eu diria que as bandeiras da ABPM não evoluíram, mas se ampliaram. Hoje, vemos a necessidade de desenvolvimento de uma pequena e média indústria. Nossa maior bandeira sempre foi a de trazer o capital nacional e estrangeiro para dentro da mineração. Uma estratégia que tem surtido frutos, mas precisa ser expandida. Eu acho ótimo que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Vale estejam articulando a criação de um Fundo de Mineração. Mas essa não é a solução para os nossos problemas porque, embora o Brasil precise de doses maciças de capital, nossa infraestrutura jurídica e institucional não está preparada para isso. Um empresário que vem para o Brasil com US$ 1 milhão, gasta esse dinheiro em passagens aéreas e hotéis à espera da autorização de seu projeto. Ele vai embora e nunca mais volta.

ITM: Por falar em capital, como está o Invest Mining?

Azevedo: O Invest Mining foi criado em um cenário de taxa de juros mais baixa, o que é extremamente importante no processo de popularização da mineração, para atrair o empresário brasileiro para o setor, abrindo perspectivas em nossa bolsa de valores. Essa ideia começou na ABPM e se expandiu para outras instituições. Infelizmente, no decorrer do tempo, voltamos a ter uma alta taxa de juros no país, o que é um problema crônico. Em paralelo, conseguimos uma solução apropriada que é o Projeto de Lei da deputada federal Laura Carneiro (PSD-RJ) – PL nº 4.975/2023, que cria incentivo tributário à pesquisa mineral por meio do mercado de capitais e permite a realização de IPOs da atividade de pesquisa mineral (APEM), para a captação de recursos visando seu custeio -, à semelhança do que ocorre no Canadá e Austrália.

ITM: Como funcionará esse sistema de captação de investimentos?

Azevedo: Basicamente, o investimento em mineração será desonerado do Imposto de Renda (IR) dos investidores e considerado como despesa. Por exemplo: se o investidor tiver R$ 100 mil a pagar de IR e investir R$ 10 mil na compra de ações de mineração, esse valor será compensado como despesa. Se os R$ 10 mil investidos virarem R$ 100 mil, o IR será recolhido sobre o capital ganho. Se não houver ganho, porque quase invariavelmente os projetos não dão certo, não haverá recolhimento de IR. Nesse caso, o Brasil não perderá o IR que deixou de ser recolhido sobre o investimento inicial, porque ele já foi aplicado em serviços, mão de obra e conhecimento geológico. Não é um projeto da ABPM, é do Brasil, e espero que as instituições nos ajudem a aprová-lo.

ITM: Em sua opinião, há necessidade de alterar novamente o Código de Mineração?

Azevedo: Não. Essa é uma enorme besteira. O Código de Mineração pode ser aprimorado, mas uma das coisas que o investidor estrangeiro mais admira é a perenidade da regulação. A defesa de um novo marco é fruto da ignorância de quem não conhece o setor, de político que gosta de inovar códigos ou de governo que quer mostrar a que veio. Outra bobagem são os planos de mineração, de cuja elaboração não participo mais. Eles têm 120 metas com 70%, senão 90%, de identidade às do primeiro plano. Façam um plano com três linhas de atuação e procurem executá-lo. O problema do Brasil não é o Código de Mineração ou novos planos de mineração. É a ineficiência da gestão.

ITM: Qual sua opinião sobre as críticas quanto à baixa tributação da mineração brasileira em comparação com a de outros países mineradores?

Azevedo: Trata-se, mais uma vez, de ignorância. A Austrália cobra 56% de IR de um profissional de nível médio ou superior. O Canadá cobra entre 45 e 50%. Mas a população desses países não tem um sentimento de que o IR é alto, porque o retorno do governo, em contrapartida à arrecadação, é enorme. No caso da mineração, em alguns casos, talvez a carga tributária seja menor. Mas como um todo e em termos de complexidade é muito maior, além de ter outras variáveis inerentes, que compõem o Custo-Brasil. Temos perdas em estradas e portos e nossa carga mineral leva muito mais tempo para chegar a seu país de destino por não termos uma matriz logística eficiente. É um dos motivos porque o Peru, o Chile e até a Argentina, com toda a sua crise econômica, atraem mais investidores que o Brasil.

ITM: Qual é seu posicionamento em relação à mineração em Terras Indígenas e em Faixas de Fronteira?

Azevedo: A faixa de fronteira é outro fruto de nossa ignorância, assim como o monopólio dos minerais nucleares. Queríamos a preservação do nosso território e criamos essa regra, que já foi revista no mundo todo menos aqui. Acabamos esterilizando essas áreas e tornando-as vulneráveis. Se elas tivessem atividade econômica, haveria mais entes empresariais e políticos contribuindo para ocupá-las e preservá-las, evitando que se transformassem em corredores para o tráfico de drogas.

ITM: E as Terras Indígenas?

Azevedo: Esse já é um caso um pouco mais complexo. Apesar de defender a liberdade econômica, sou contra a mineração nessas terras. O Brasil tem um território enorme e não devemos comprar essa briga simplesmente por haver aquiescência legislativa. Precisamos reconhecer a vulnerabilidade desses povos e fortalecer as instituições para fazer mineração onde o interessado quer mineração. Fui contra o projeto de lei do governo Bolsonaro (PL nº 191/2020) nesse sentido. Primeiro, por elevar o garimpo à condição de mineração, sendo como é uma atividade ilegal na região amazônica, hoje associada a grupos criminosos. Era um projeto de lei completamente equivocado e a demora das instituições tradicionais do setor levou a sociedade a pensar que éramos sponsors do Bolsonaro nessa iniciativa. O governo precisa criar infraestrutura e regras muito claras para permitir o diálogo entre o segmento e as comunidades tradicionais. Mas não estamos maduros e nem precisamos disso neste momento.

ITM: Em sua visão, como o licenciamento ambiental pode ser aprimorado?

Azevedo: Acredito que, ao invés de inventar, é mais fácil copiar o que está dando certo. Na Austrália, em particular no leste do país, o governo licencia cerca de dez projetos minerais por ano. O restante é objeto de auto licenciamento. Em Carajás (PA), o órgão ambiental do estado deve ter cerca de 60 funcionários para lidar com 70 projetos de mineração. É uma tarefa impossível. Quantos desses projetos têm tamanho suficiente para demandar essa atuação do estado? Outro problema é que o rito de licenciamento é o mesmo para grandes ou pequenos projetos e por demais demorado. Na Avanco Resources, por exemplo, a mina, que deveria durar nove anos, durou sete, sendo fechada ao mesmo tempo em que era licenciada. O auto licenciamento, com responsabilização do empreendedor do projeto, regras claras e entrega de relatórios, através de processos digitalizados e online, é uma solução muito mais indicada em alguns casos.

ITM: Quais fatores são mais importantes na jornada ESG de projetos minerais?

Azevedo: A ESG é uma repaginação ou releitura coletiva de conceitos que já existiam. Eu não sei até que ponto essa repaginação vem acompanhada de conhecimento e necessidade. Critico muito o fato de importarmos modelos ESG do exterior. Se a empresa é canadense, mas opera uma mina no Brasil, ela importa o checklist de ESG que usa no Canadá. Não há discussão com a sociedade envolvida com o projeto, para analisar o ambiente em que a empresa atua. Ou seja: estamos com uma ESG de que o Brasil não precisa.

ITM:  E qual seria o modelo adequado de ESG?

Azevedo: Quando comecei o projeto da Bravo, que fica a 10 km de Serra Pelada, vi que o sentimento geral de políticos e da comunidade local sobre mineração era negativo. Porque nem o garimpo de Serra Pelada, nem mineradoras que atuaram na região, haviam deixado qualquer legado positivo para essa comunidade. Para reverter esse sentimento, antes mesmo de fazer o primeiro furo de sondagem, passamos a empregar moradores locais e a atuar nas áreas social e de meio ambiente. Hoje, já plantamos 15 mil árvores em áreas degradadas há 40 anos e temos outras 34 mil para serem plantadas, produzidas em um viveiro de mudas próprio, sendo que 70% delas são de árvores frutíferas de alto rendimento. Na área social, focamos nosso projeto em cerca de 300 jovens da comunidade, com programas de capacitação e atividades culturais e esportivas que reduzem sua vulnerabilidade social.

ITM: A mineração no Brasil tem futuro?

Azevedo: Tem futuro sim. Nós mesmos vamos dizer se é um futuro que temos condições e meios de criar ou se repetirá nosso presente. Estamos diante de uma mudança energética que exigirá novos minerais, ainda que não no grau e velocidade que as instituições tradicionais reputam. Talvez se chegue a um equilíbrio, restringindo o crescimento das fontes de energia fósseis e criando, ao mesmo tempo, meios de realizar o sequestro do carbono. O Brasil tem um grande papel a desempenhar nesse processo: eliminar principalmente o desmatamento e exigir a compensação prévia de áreas desmatadas por empreendimentos produtivos. Precisamos fazer um exame profundo do que devemos mudar e, particularmente, acho que todo brasileiro deve deixar de ser um mero expectador e se envolver mais em política. O mero exercício do voto é muito pouco para fazer a escolha de seu futuro.

ITM: Sob essa ótica, quais serão os potenciais combustíveis?

Azevedo: Para mim, serão dois: o urânio e as energias renováveis. Já estamos na quarta onda dos carros elétricos e o carregamento de energia continua um problema. Outra questão: a média mundial de quilometragem diária de um carro é de 40 km no Brasil. Nos Estados Unidos é de 52 km. Assim, se precisamos de uma autonomia média de 50 km, qual a necessidade de eletrificar toda a matriz energética? Para mim, há espaço para o carro elétrico, para o híbrido e para o movido a combustível fóssil. Países em desenvolvimento não podem se dar ao luxo de eletrificar todo o seu território. Apesar disso, no Brasil, o carro elétrico foi incentivado indiscriminadamente. Agora, ao se perceber o quanto se perdeu de renúncia fiscal, partimos para taxar tudo, inclusive o sol e o vento.

Luis Azevedo
© Ben Phillips Photography

Perfil:

Nasceu em: Campos (RJ), em 16 de julho de 1963

Formação acadêmica: Geologia na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Direito na Universidade Cândido Mendes e Pós-Graduação em Direito Empresarial pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Trajetória profissional: 4 empresas – Western Mining Corporation, onde comecei; Barrick Gold durante três anos; Hacket, siderúrgica multinacional; e FFA Legal, que abarca todas as demais empresas

Família: Casado, com três filhos

Um time de futebol: Gosto de dificuldades: Vasco

Um hobby: Sou cinéfilo

Um ídolo: Descobri meu ídolo aos 30 anos: meu pai. Que estava ao meu lado o tempo todo

Maior decepção: O banimento do capital privado internacional na mineração pela Constituinte

Maior realização: Ter construído minha família e minha empresa de forma conjunta. Minha esposa trabalha comigo há 23 anos e um dos meus filhos também. Nossa empresa é como uma extensão da nossa família

Um projeto: Ver um Brasil mais justo. Sei que é um projeto meio utópico. Mas ainda espero ver um país diferente do que eu encontrei

Um “conselho” a jovens geólogos e advogados: Costumo dizer a todos que vêm trabalhar comigo: ‘Você chegou aqui por conta do seu talento. Mas ficará aqui por conta do seu esforço’

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