UM ENGENHEIRO CIVIL DEDICADO À MINERAÇÃO NA HOCHSCHILD MINING

UM ENGENHEIRO CIVIL DEDICADO À MINERAÇÃO NA HOCHSCHILD MINING

A formação como engenheiro civil na turma de 1981, na atual Unifenas (Universidade José do Rosário Vellano), sediada na cidade de Alfenas, em Minas Gerais, levou-o logo no início da carreira profissional, em 1987, a uma das maiores mineradoras na época, a SAMA (S.A.Minerações Associadas), produtora de amianto em Minaçu, Goiás. De lá saiu para duas grandes empresas de engenharia – Ivaí, primeiro, e Engepar, depois -, voltando a outra mineradora – a canadense Yamana, produtora de ouro. Foi para a Entersa, também de engenharia, e voltou à mineração em fevereiro deste ano. Curiosamente no mesmo estado onde começou, 35 anos atrás.

Edson Reis Del’Moro é, hoje, o country manager Brasil da Hochschild Mining, subsidiária da peruana Hochschild, que opera minas de ouro e prata no Peru e na Argentina, além de manter projetos no Chile e Canadá. Em sua nova posição, Del’Moro tem a atribuição de construir e colocar em operação o projeto Mara Rosa, de ouro, na cidade goiana homônima, o primeiro da mineradora no Brasil, adquirido em 2021. Com um investimento da ordem de US$ 200 milhões, a nova mina deve produzir 896 mil onças de ouro em seus dez primeiros anos contados do primeiro semestre de 2024.

Agradável, articuladíssimo e – acima de tudo – sempre focado, o executivo descreve o projeto nesta entrevista exclusiva à revista In the Mine, tratando de suas reservas e recursos minerais, da configuração de suas plantas de britagem – pioneira no Brasil – e beneficiamento, dos programas de desenvolvimento de fornecedores e mão de obra nas comunidades locais, da geração de empregos diretos e indiretos e da perspectiva de, juntamente com toda a equipe da Hochschild Mining, “fazer a diferença” nessa região, a mais de 300 km de distância da capital do estado. Del’Moro faz, ainda, um balanço deste ano que chega ao fim, traça projeções para 2023 e expõe o que considera entraves à mineração, em particular, de ouro, no Brasil. A jovens engenheiros recomenda que controlem a ansiedade, busquem aprimorar seu conhecimento e se dediquem às suas carreiras. “Cargo e remuneração virão naturalmente”, assegura.

ITM: Qual é o histórico de atuação da Hochschild Mining em outros países e no Brasil?

Del’Moro: A Hochschild é uma empresa peruana com mais 100 anos de história. A Hochschild Mining é o braço de mineração da empresa, com mais de 50 anos de experiência e uma das principais produtoras de metais preciosos das Américas, possuindo ações listadas na bolsa de valores de Londres. Conta com as minas Inmaculada, de prata, e Pallancata, de ouro e prata, no Peru, e San Jose, na Argentina, também de ouro e prata, além dos projetos Volcan, no Chile, e Snip, no Canadá, ambos de ouro, e, agora, com a mina em fase de construção no Brasil. A Hochschild possui quase 4 mil colaboradores diretos, número que aumentará com o início da operação do Projeto Mara Rosa, de ouro, em Goiás, o primeiro investimento da empresa no Brasil.

ITM: Qual foi a evolução do projeto Mara Rosa?

Del’Moro: As reservas de Mara Rosa foram descobertas pela BHP Billiton nos anos 1980, enquanto o projeto foi operado pela Western Mining na década de 1990. Em 1998, foi vendido para a Metallica, sendo adquirido pela Amarillo Gold em 2004. A Hochschild Mining assumiu Mara Rosa no final de 2021. Ao longo dos anos, o projeto passou pelo processo de pesquisa mineral, obtenção das licenças necessárias para início da construção, como as licenças Prévia (LP) e de Instalação (LI) e autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para liberação da área. Isso significa o cumprimento de todas as exigências legais e o atendimento às demandas da SEMAD (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás). A chegada da Hochschild no Brasil, um país com grande potencial mineral, representou importante crescimento para a companhia. Para nós, é um orgulho estar em um estado com tantos potenciais como Goiás e em uma cidade calorosa e rica em cultura e história, como Mara Rosa.

“A Hochschild é uma empresa peruana com mais 100 anos de história. A Hochschild Mining, seu braço de mineração, tem mais de 50 anos de experiência e é uma das principais produtoras de metais preciosos das Américas. Em 2021, assumiu o projeto Mara Rosa, de ouro, em Goiás”

ITM: Quais são as reservas e recursos minerais identificados no depósito?

Del’Moro: O Projeto Mara Rosa compreende uma mina com minério de ouro a céu aberto, reserva de 902 mil onças de ouro contidas e de 811 mil onças de ouro recuperadas, baseadas em 24 milhões de toneladas com classificação de 1,18 g/t, e recursos de 1,2 milhão de onças de ouro contidas, em 32 milhões de toneladas com classificação de 1,1 g/t. O programa de exploração regional recentemente concluído mostrou potencial para expandir os recursos de Mara Rosa em um trend de 10 km em Posse Norte.

ITM: Quanto é o investimento total no projeto e como esses recursos foram captados?

Del’Moro: Até o momento, investimos US$ 70 milhões para a conclusão das primeiras etapas da obra e importação de diversos materiais, como moinhos, britadores e filtros. Até a conclusão do projeto, serão investidos aproximadamente U$ 200 milhões. Esses recursos são provenientes de acionistas, investidores e recursos privados da Hochschild Mining.

“Mara Rosa compreende uma mina com minério de ouro a céu aberto, reserva de 902 mil onças de ouro contidas e de 811 mil onças de ouro recuperadas e recursos de 1,2 milhão de onças de ouro contidas”

ITM: Como será configurada a planta de beneficiamento e qual a destinação dos rejeitos do processo?

Del’Moro: Nosso projeto prevê um sistema de britagem modular FIT, pioneiro no Brasil, dois moinhos de bola de 19×28, um espessador, 4 filtros prensa para a filtragem de rejeitos e uma planta CIL (Carbon in Leach). Mara Rosa é o primeiro projeto greenfield da região construído sem barragem de rejeitos. O sistema dry stacking prevê o empilhamento de rejeitos a seco, possibilitando o reaproveitamento de 85% da água utilizada no processo e dando mais segurança à operação, seus empregados, comunidade e meio ambiente.

ITM: Qual é a fase atual do projeto?

Del’Moro: Atualmente, cerca de 28% de todo o projeto está concluído, como o platô da britagem, escavação do reservatório, acessos temporários, instalação de canteiros de obras e alojamento para os profissionais. Com o comprometimento dos atualmente 700 colaboradores trabalhando diretamente na obra, conseguiremos chegar ao final de 2002 com 39% do planejamento concluído, com destaque para o Reservatório Pequi, distribuição de rede elétrica provisória e platô da planta de beneficiamento. Um avanço significativo, considerando apenas oito meses de trabalho. Durante o período de maior pico de obras, devemos chegar a aproximadamente 1.400 profissionais diretos atuando no projeto.

“Até a conclusão do projeto, serão investidos aproximadamente U$ 200 milhões em recursos provenientes de acionistas, investidores e da Hochschild Mining”

ITM: Quais são os principais fornecedores do projeto?

ITM: A Hochschild está investindo nos fornecedores locais para que possam participar mais do processo de investimento, gerando emprego e renda. Já foi implantado o Programa Desenvolvimento de Fornecedor (PDF), juntamente com a Associação Comercial de Mara Rosa, e um programa de formação e qualificação de mão de obra para os moradores das cidades na área de influência do projeto. Para os grandes equipamentos temos a Metso, FLSmidth, Weir, Andritz, Siemens e a Vision, entre outras.

ITM: No caso da mão de obra, quantos funcionários serão contratados para a operação da futura mina?

Del’Moro: Estimular a comunidade faz parte da nossa política de desenvolvimento local e nos orgulhamos em contar com tantos talentos promissores em nosso projeto. Além dos cerca de 1.400 empregos diretos na fase de construção, outros 810, também diretos, serão gerados durante a operação da mina. Lembrando que em toda cadeia do setor mineral, estima-se até 14 empregos indiretos para cada colaborador direto.

“Mara Rosa é o primeiro projeto greenfield da região construído sem barragem de rejeitos”

ITM: Qual é a previsão de início da produção e como está planejada sua evolução ao longo do tempo?

Del’Moro: A previsão é que a operação comercial tenha início no primeiro semestre de 2024. A produção estimada para os 10 anos iniciais do projeto é de 896 mil onças de ouro, que equivalem a mais de 28.000 kg. A Hochschild estuda um trend ao norte da mina com grandes oportunidades para o projeto. Um dos principais alvos está localizado a nordeste de Posse, em uma área de 6 mil hectares.

ITM: Quais são as ações sociais e ambientais desenvolvidas pela Hochschild na região de Mara Rosa? Quais e quantos são os beneficiados por essas ações?

Del’Moro: Entre as diversas ações desenvolvidas pela Hochschild para a população de Mara Rosa e região, gostaria de destacar os cursos oferecidos a toda a comunidade, por meio do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, que contou com a adesão de mais de 50 empresas de Mara Rosa e Amaralina e investiu na capacitação de mais de 1.000 profissionais. Entendemos que o conhecimento abre novas portas, e temos alunos que, após passarem pelos treinamentos, podem atender ao setor mineral, mas também aproveitar seu aprendizado em outras áreas, não necessariamente ligadas à mineração. Em 2022, outro importante destaque, que uniu educação e conscientização ambiental, foi a inauguração da Trilha do Conhecimento, um projeto para toda a comunidade de Mara Rosa e região. Alunos, professores e todas as pessoas que quiserem conhecer a história da cidade, da mineração local e da fauna e flora do Cerrado poderão visitar a Trilha de forma gratuita. É um espaço de aprendizado, lazer e valorização do patrimônio regional.

“Já foi implantado o Programa Desenvolvimento de Fornecedor (PDF) com a Associação Comercial de Mara Rosa e um programa de formação e qualificação de mão de obra para os moradores das cidades na área de influência do projeto”

ITM: Como o tema de Diversidade e Inclusão será tratado pela Hochschild Mining na futura operação de Mara Rosa?

Del’Moro: Somos uma empresa que chegou ao Brasil com o objetivo de fazer a diferença em Mara Rosa. Temos um quadro diverso de colaboradores, mas sempre priorizamos a contratação de mão de obra local e regional, dando oportunidade às pessoas da comunidade na qual estamos inseridos. E temos excelentes colaboradores em nosso time. Em 2022, assinamos a adesão ao Women in Mining com o compromisso de ampliar a presença de mulheres em nossas áreas. Hoje, 25% das vagas são ocupadas por essas profissionais, índice bastante superior à média do mercado.

ITM: Há perspectiva de aquisição de novos direitos ou ativos minerários pela Hochschild no Brasil?

Del’Moro: A avaliação de novas oportunidades para crescimento do portfólio da empresa no país está nos planos da Hochschild. No entanto, não há nada de concreto ainda, além do projeto Mara Rosa.

“Em 2022, assinamos a adesão ao Women in Mining com o compromisso de ampliar a presença de mulheres em nossas áreas. Hoje, 25% das vagas são ocupadas por essas profissionais, índice bastante superior à média do mercado”

ITM: Como você analisa o ano de 2022 e quais as perspectivas para a Hochschild em 2023?

Del’Moro: 2022 foi um ano de grandes conquistas para a Hochschild. Adquirimos o Projeto Mara Rosa e importantes licenças para nossa operação, investimos e desenvolvemos projetos de alto impacto nas comunidades ao nosso redor, iniciamos a construção da futura mina e nos tornamos parceiros do Women in Mining, reforçando nosso compromisso com a diversidade e inclusão feminina no setor mineral. Muito além disso, vimos nosso corpo de colaboradores crescer, com a chegada de profissionais de diversas áreas comprometidos em fazer a diferença no Projeto Mara Rosa. Temos uma ótima mão obra goiana e estamos aproveitando esse momento para incentivar a contratação local. O próximo ano certamente trará novos desafios, e estamos otimistas. Teremos a futura mina em fase de conclusão, o início dos trabalhos de áreas diretamente ligadas à operação e um cenário muito favorável ao mercado de ouro no Brasil.

ITM: Você já atuou tanto em mineradoras, como a Yamana, quanto em prestadoras de serviços para mineração. Quais são as principais diferenças entre esses polos de negócio?

Del’Moro: Sim, com praticamente 35 anos de experiência no setor de mineração, trabalhando para empresas nacionais e multinacionais na área, já participei de diversos projetos de grandes mineradoras e prestadoras de serviços na área de mineração. Os objetivos nos dois polos são sempre os mesmos, de entrega do melhor e mais econômico produto final. Sendo que como prestador, fica-se muitas vezes focado apenas em uma fase ou em uma área do negócio. Já como operador, a visão é totalmente abrangente e cobre toda a operação do início ao fim do processo e do projeto.

“O Brasil precisa de políticas mais assertivas que estejam voltadas para a mitigação do garimpo e a promoção das ações legais de mineração”

ITM: Em sua opinião, quais são os principais entraves para o desenvolvimento da mineração no Brasil e como eles poderiam ser solucionados?

Del’Moro: O cenário atual é de boas perspectivas para a mineração brasileira de ouro, que é considerado um ativo seguro. Hoje, a mineração ilegal é um problema, pois promove o desmatamento e a poluição do solo e água em locais de preservação. Muito em razão disso, comunidades afetadas passam a ver a atividade mineral como algo ruim e podem dificultar o avanço de empresas sérias e responsáveis na área. Na economia, essa prática faz com que estados e municípios deixem de arrecadar impostos que são direcionados à saúde, educação e infraestrutura, impedindo a geração de postos de trabalho diretos e indiretos. O Brasil precisa de políticas mais assertivas que estejam voltadas para a mitigação do garimpo e a promoção das ações legais de mineração. Acreditamos no poder de um trabalho sério, competente e comprometido com questões éticas e ambientais para avançarmos.

Perfil:

Edson DelMoro

Nasceu: 06 de janeiro de 1964, em Andradas (MG)

Trajetória Acadêmica: Formado em Engenharia Civil em 1986, pela atual Unifenas, em Alfenas (MG), com MBA em Management pelo Instituto Lora (FGV) e como conselheiro de Administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

Trajetória Profissional: Chefe do departamento de Mineração e Manutenção Pesada na SAMA (SA Minerações Associadas), entre junho de 1987 e junho de 1997. Gerente de contratos na Ivaí Engenharia de Obras, entre junho de 1997 e março de 2003. Diretor da Engepar Engenharia, de março de 2003 a agosto de 2007. Gerente geral (agosto de 2007 a agosto de 2011) e diretor de Operações (agosto de 2011 a dezembro de 2015) na Yamana Gold. Diretor de operações da Entersa Engenharia, Pavimentação e Terraplenagem (fevereiro de 2017 a fevereiro de 2022). Country manager Brasil na Hochschild Mining, desde fevereiro de 2022. É diretor técnico da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), diretor do SIEEG (Sindicato das Indústrias Extrativas do Estado de Goiás e do Distrito Federal) e diretor fundador da organização Mineronegócio

Família: Casado com a Ignez, uma mulher incrível, e com dois filhos lindos Pedro e Gabriela

Hobby: Música. Entre amigos e familiares me arrisco bem na bateria

Time de Futebol: Palmeiras

Um mestre: Meu pai, que sempre me ensinou o valor do trabalho e a ser uma pessoa integra e humana

Maior decepção: Não aceitarem o campeonato mundial de 1951 do Palmeiras

Maior realização: A formação dos meus filhos e o caminho que estão trilhando

Um projeto: Ser uma referência entre meus colegas de empresa, como um líder íntegro e humano

Um “conselho” a jovens engenheiros: Vejo todos muito ansiosos nos últimos tempos. Porém, busquem conhecimento sempre e principalmente nos primeiros anos profissionais. Aprendam o máximo possível e se dediquem à sua carreira. Cargo e remuneração virão naturalmente

 Fotos: Hochschild Mining/Divulgação

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