RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

Os irmãos Hugo e Pascal Asselin, que cresceram na Guiana Francesa, juntamente com seu pai, que trabalhava na indústria de mineração, pensaram em possíveis soluções de recuperação de áreas degradadas pela atividade. Em laboratórios parceiros na França e no Brasil, desenvolveram um sistema de sementes encapsuladas, aplicado em áreas mineradas e outras que demandavam as práticas de reflorestamento. Estava criada a Morfo, empresa para restauração ecológica em grande escala dos ecossistemas florestais em áreas improdutivas. No empreendimento, os irmãos foram acompanhados por Adrien Pages (CEO), Grégory Maitre (CEO no Brasil) e por mais de 20 colaboradores, que vivem no Brasil, França e Gabão.

Grégory Maitre
Grégory Maitre, CEO da Morfo no Brasil

No Brasil, a Morfo iniciou sua atividade em 2023, mas já possui projetos que serão realizados no final do ano nas regiões de Minas Gerais e do Pará e nos estados do Rio de Janeiro, Paraná e Bahia, onde já foram implantados projetos de crédito de carbono em pequena escala em áreas que podem ser comparadas a áreas de compensação. Também estão sendo estruturados projetos para 2024, nos biomas da Amazônia, da Mata Atlântica e do Cerrado que, atualmente, estão em fase de análises e diagnósticos.

Processo

A primeira etapa de um projeto de reflorestamento conduzido pela Morfo é a de análise da área, com a coleta de dados através de drones e satélites. Segue-se a seleção das espécies adequadas, locais ou endêmicas, que já foram previamente estudadas e testadas em laboratório, a partir de um catálogo interno, e serão posteriormente coletadas por comunidades locais.

O plantio das sementes em cápsulas, já contendo todos os elementos biológicos e nutrientes necessários para um reflorestamento de longo prazo, é realizado por drones. Um único drone pode cobrir até 50 hectares por dia, sendo capaz de plantar 180 cápsulas por minuto em terrenos íngremes e de difícil acesso. “Esse processo é 50 vezes mais rápido do que uma solução de reflorestamento tradicional e dispensa meses de crescimento em viveiros”, explica Maitre. A quarta e última etapa é a de monitoramento da biomassa, biodiversidade e estoques de carbono das áreas plantadas, com o auxílio de imagens capturadas por drones e satélites.

Segundo Maitre, a Morfo já desenvolveu mais de 17 projetos desde a sua criação, a maioria na Guiana Francesa, mas também no Gabão, Costa do Marfim, Gana e Senegal. Entre os clientes estão duas das quatro maiores empresas mineradoras francesas, a Eramet, que possui a filial Comilog, no Gabão, e o grupo AuPlata Mining, com filial na Guiana Francesa.

A operação na Comilog, da Eramet, foi iniciada em 2022 e seguirá até 2024, abrangendo 17 hectares divididos em várias áreas, com dois biomas -savana e floresta tropical. Além da fragmentação das áreas, outros complicadores do projeto foram a elevada compactação do solo, o risco maciço de erosão e as espécies invasoras. Para esse contrato, a Morfo estudou e integrou mais de 20 espécies específicas dos biomas e desenvolveu uma rede local de coleta de sementes, para garantir a melhor qualidade de fornecimento.

No caso do AuPlata Mining foram diagnosticados 200 hectares de áreas e restaurados 40 hectares, com 1 bioma, trabalho iniciado neste ano, com conclusão prevista para 2028. Os principais desafios do projeto são a acessibilidade ao local, altamente remoto, a necessidade de uma logística leve e a complexidade da análise com áreas altamente diversificadas.

Segundo Maitre, ferramentas de Inteligência Artificial (IA) são necessárias em cada etapa de um projeto de restauração. Uma das equipes mais desenvolvidas da Morfo, por exemplo, é composta por cientistas de dados, que interpretam as imagens de satélites e os dados coletados por drones, convertendo-os em informações utilizáveis para definir os padrões de plantio. “A IA, portanto, atua em diferentes momentos do projeto: na análise, na determinação das espécies a serem plantadas e no esquema de plantio a ser seguido e, após o projeto, no monitoramento e acompanhamento dos resultados”, justifica o CEO da empresa no Brasil.

antes-depois MORFO
Fotos 2 e 3: Comparativo de áreas degradada e revegetada em mina de ouro aluvial no noroeste da Guiana Francesa (Pedro Abreu/Divulgação Morfo)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.