QUALIDADE DE DADOS E GOVERNANÇA CORPORATIVA

Glaucia

A última edição da revista apresentou a primeira parte de uma nova série de artigos técnicos sobre a importância da qualidade da informação utilizada na declaração de recursos e reservas minerais, resultante da pesquisa de doutoramento de CUCHIERATO (2022). Foram indicadas as definições apropriadas e relevantes para o tema e termos relacionados a dados, informação, sistemas de gestão e governança, de acordo com diversos autores.

A International Organization for Standardization (ISO) – entidade internacional de padronização e normatização, representada no Brasil pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que promove a normatização de empresas e produtos para manter a qualidade permanente – especialmente em relação a diversas variações de sistemas de gestão de qualidade -, desenvolve, desde 2008, uma série de documentos normativos de padronização visando a qualidade de dados. A série ISO/TS 8000 define características de informações e dados que determinam sua qualidade e fornece métodos para gerenciar, medir e melhorar sua qualidade.

A Parte 1, recém-atualizada (ISO, 2022), define dados de qualidade como “dados portáteis que atendem aos requisitos estabelecidos” e dá a visão geral da qualidade de dados e da série ISO 8000, compreendendo o estabelecimento dos princípios da qualidade da informação e dos dados e a orientação do caminho para alcançá-la.

No que se refere à qualidade dos dados, ISO (2016) destaca:

“A capacidade de criar, coletar, armazenar, manter, transferir, processar e apresentar informações e dados para apoiar os processos de negócios de maneira oportuna e econômica requer tanto uma compreensão das características da informação e dos dados que determinam sua qualidade, quanto uma capacidade para medir, gerenciar e relatar a qualidade da informação e dos dados.

Há um limite para a melhoria da qualidade dos dados quando apenas a não conformidade dos dados é corrigida, pois a não conformidade pode ocorrer novamente. No entanto, quando as causas-raiz da não conformidade de dados e os dados relacionados são rastreados e corrigidos por meio de processos de qualidade de dados, a recorrência do mesmo tipo de não conformidade de dados pode ser evitada.

Portanto, uma estrutura para gerenciamento de qualidade de dados centrada no processo é necessária para melhorar essa qualidade de forma mais eficaz e eficiente. Além disso, a qualidade dos dados pode ser melhorada por meio da avaliação de processos e da melhoria dos processos de baixo desempenho identificados pela avaliação. (ISO, 2016).”

A parte 61 da série ISO 8000 especifica os processos necessários para avaliar e melhorar a capacidade dos processos ou aumentar a maturidade organizacional em relação à gestão da qualidade dos dados (ISO, 2016).

Cada processo é definido pelos propósitos, resultados e atividades que devem ser aplicados para garantir a qualidade dos dados. É aplicável ao gerenciamento da qualidade de conjuntos de dados digitais que incluem:

  • dados estruturados armazenados em bancos de dados; e
  • dados menos estruturados, como imagens, áudio, vídeo e documentos eletrônicos.

A proposta desse padrão de gerenciamento é baseada na execução pelo ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), adaptado para a qualidade dos dados, como indicado na Figura 1. Já o Quadro 1 organiza algumas das orientações dessa norma técnica.

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Figura 1 – Processo de Gerenciamento de Qualidade de Dados. Fonte: ISO (2016)

 

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Quadro 1 – Definições e orientações do padrão ISO 8000-61. Fonte: ISO (2016)

Barbosa & Lyra (2019) definem a governança de dados como “o exercício de autoridade e de controle (planejamento, monitoramento e execução) sobre o gerenciamento de ativos de dados”, caracterizada pela forma como as decisões são tomadas sobre os dados pelas organizações, independentemente de terem uma função formal de governança de dados.

As empresas que estabelecem um programa formal de governança de dados exercem, de forma estratégica, intencional e consistente, maior autoridade e controle sendo mais propensas a alavancar o valor dos seus ativos de dados.

O termo compliance é utilizado sem tradução no Brasil e foi conceituado pela Australian Standard (entidade integrante da ISO), em 2006, como “adesão aos requisitos de leis, padrões da indústria e organizações e códigos, princípios de boa governança e normas comunitárias e éticas aceitas”.

Empresas globalizadas possuem maior desafio para o atendimento dos requisitos regulamentadores em diversas jurisdições e devem avaliar quais os riscos decorrentes da não-conformidade.

Para a implementação de um programa de governança de dados, alguns conceitos adicionais, provenientes da Governança Corporativa, aplicados ao contexto da indústria mineral, devem ser compreendidos, pois os(as) Profissionais Qualificados(as) têm um papel amplo no atendimento às principais práticas.

Conforme o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (IBGC, 2015):

“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum.

Os princípios básicos de governança corporativa (Figura 3) permeiam, em maior ou menor grau, todas as práticas do Código, e sua adequada adoção resulta em um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações com terceiros. (IBGC, 2015).

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Figura 3 – Princípios da Governança Corporativa. Fonte: IBGC (2016)A frase do ex-procurador-geral nos EUA, Paul McNulty, aponta para a urgente necessidade de as empresas estarem aderentes às boas práticas: “O custo da não-compliance é imenso. Se você considera a compliance caro, tente a não-compliance”.

Na próxima edição serão apresentados critérios e parâmetros de qualificação e quantificação de dados. Até lá.

1Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia

 REFERÊNCIAS

BARBOSA, W.; LYRA, R. Enap. Governança de Dados: Princípios, importância e desafios do Gerenciamento de Dados. Brasília, 2019. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/5008

CUCHIERATO, G. (2022), A importância da qualidade da informação no processo de declaração de recursos minerais. 293 f. (Tese de Doutoramento em Engenharia de Minas). Departamento de Engenharia de Minas e do Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.

IBGC – INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5.ed. São Paulo, SP: IBGC, 2015, 108p.

ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 8000-61: Data quality — Part 61: Data quality management: Process reference model. ISO/TC 184/SC 4 Industrial data. [s.l.; s.n.], 2016. 21p.

ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO / TS 8000-1: Qualidade de dados – Parte 1: Visão geral. [s.l.; s.n.], 2022.

 

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