O ENGENHEIRO DA SUSTENTABILIDADE

O ENGENHEIRO DA SUSTENTABILIDADE

Por Ricardo Gonçalves,

ITM45_FotoRicardo Ribeiro, diretor de Segurança e Desenvolvimento Sustentável da Unidade Níquel da Anglo American, chegou à companhia no início do ano passado. Engenheiro mecânico, trouxe no portfólio 25 anos de experiência, na Gerdau, Unilever e 3M. O seu escritório em São Paulo, decorado com suas lembranças, informes da Anglo American, pequenas amostras de níquel, a última edição da revista  In The Mine e um velho chapéu de mineração, guardado há vários anos pelo executivo, indicam sua disposição em incorporar a cultura do setor e, a partir daí, dedicar-se à sua especialidade: a sustentabilidade da operação, em todos os seus aspectos.

Nesta entrevista exclusiva, esse paranaense, de 49 anos, fala da importância das parcerias com órgãos públicos e não governamentais e do diálogo com a comunidade para garantir a sustentabilidade das operações a longo prazo.

ITM: O que caracteriza o trabalho da Anglo American para garantir o desenvolvimento sustentável?
Ribeiro: Sem dúvida, o diál ogo desenvolvido com as comunidades. Um trabalho muito inovador que a Anglo American realiza é o SEAT (Caixa de Ferramentas para Avaliação Socioeconômica), iniciado em 2004 e com ciclos de duração de três anos, que visa entender melhor como funciona cada comunidade onde vamos minerar. Facilita o planejamento de longo prazo, com o dimensionamento social da região e dá suporte às operações. Destaco também nossas parcerias com os Governos e com Organizações Não-Governamentais (ONGs). Dentre as quais, a ONG Agenda Pública, que tem duas grandes frentes de trabalho: capacitar os servidores e as instituições municipais e ainda promover a participação popular.

ITM: O “Zero Lesão” é um programa de segurança? Vocês já atingiram essa marca?
Ribeiro: O “Zero Lesão” é um valor nosso. O conceito vem do inglês “zero harm”, e é bem mais amplo do que segurança. Mesmo porque, a mineração tem alto grau de risco e nunca se atinge um patamar confortável. A prevenção é a única forma efetiva para se trabalhar. Por isso, investimos continuamente em infraestrutura, treinamentos e capacitação. Com a Codemin, em Niquelândia (GO), o recorde de tempo sem acidentes com afastamento é de três anos na operação, 20 anos nos laboratórios e 12 anos na área de reflorestamento. Já Barro Alto (GO) não teve nenhuma fatalidade durante todo o projeto, em que trabalharam 8 mil homens e foi atingido um pico de 37 milhões de horas-homem trabalhadas.

ITM: No que consiste o  Programa de Gestão de Riscos de Segurança (SRMP)?
Ribeiro: O SRMP foi desenvolvido em 2007 pela Anglo American em conjunto com a Mineral Industry Safety and Health Centre da Universidade de Queensland, da Austrália e contempla toda a hierarquia da empresa. Global mente, já teve a participação de mais de cinco mil pessoas. No Brasil, mantemos parceria com a Poli/USP e já investimos R$ 3,5 milhões. Somente em 2012, 700 pessoas foram capacitadas, sendo 300 voltadas para a Unidade de Negócio Níquel.

ITM45_Perfil

ITM: No caso da Anglo American, quais os pontos críticos para minimizar o impacto nas áreas mineradas?
Ribeiro: Nossas operações de níquel estão na área do Cerrado, que é considerado um bioma prioritário para a conservação da biodiversidade pelos critérios internacionais. Traçamos vários estudos com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), principalmente em relação à revegetação. Em cumprimento à legislação de compensação ambiental, em 2011 a companhia destinou R$ 35 milhões, relativos ao pagamento de 0,5% da taxa de compensação, para a preservação de unidades de conservação no entorno de Barro Alto e Niquelândia, definidas em conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente de Goiás. Também realizamos levantamentos sistemáticos para enriquecer o conhecimento sobre esse bioma. Além disso, a presença de espécies ameaçadas também é monitorada.

ITM: É um trabalho interno da própria Anglo American?
Ribeiro:  Felizmente, a empresa não está sozinha ao enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável. O projeto “A biodiversidade vai às escolas”, por exemplo, é fruto de cinco anos de monitoramento da fauna e flora do Cerrado em conjunto com a UFG. Além do material didático distribuído gratuita-mente nas escolas públicas e privadas da região de Niquelândia e Barro Alto, no primeiro semestre de 2011 foi realizada a capacitação de professores sobre o tema, em parceria com a Fauna & Flora International (FFI), mais antiga entidade in ter nacional de conservação da natureza (fundada em 1903).

ITM: A Unidade Níquel possui passivos ambientais a serem equacionados?
Ribeiro: Não temos passivos ambientais, pois o ferroníquel não gera resíduos e sim escória. O único problema é o espaço físico, pois precisamos de um local para depositar a escória. Entretanto, vale dizer que estamos estudando, juntamente com outras entidades, o aproveitamento industrial da escória para outros setores, como o seu uso em asfaltos ou cimento, por exemplo.


ITM:
Quais os maiores desafios para uma mineração sustentável?
Ribeiro: O desafio está justamente em implementar o desenvolvimento sustentável de forma completa, abordando todos os aspectos, ambientais, sociais e econômicos de forma equilibrada e gerando benefícios às diversas partes interessadas. É muito trabalhoso para uma empresa fazer investimentos na vegetação adequada para a região onde foi realizada a mineração. Isso leva muito tempo e são necessárias parcerias para tal trabalho. É mais fácil para várias empresas plantar qualquer espécie e sair dali como se o trabalho tivesse sido feito normalmente.

ITM: Essas empresas contribuem para preconceito social com a mineração?
Ribeiro: Sim, essa visão negativa em relação à mineração ainda existe e muitas empresas contribuem para isso. A atividade mineral realmente causa impactos, mas é completamente necessária. Diversos produtos são feitos à base de recursos minerais. Posso dizer que, do nosso lado, não sofremos com esses problemas. Além das premiações pela questão da sustentabilidade, temos um alto índice de aprovação em Codemin (Niquelândia) e em Barro Alto, nos fóruns que realizamos anualmente e como parte das atividades de cada ciclo do SEAT.

ITM: Quais são os gargalos ambientais do segmento?
Ribeiro: O maior desafio ambiental, na realidade, é a administração do recurso mineral. No caso de Codemin, por exemplo, a atuação já dura 30 anos. Com os avanços tecnológicos, em especial na última década, houve um aproveitamento muito maior do ferroníquel. A questão de estrutura também era um ponto crucial. Quando chegamos à Niquelândia, a cidade tinha cerca de oito mil habitantes. Hoje, ultrapassa a marca de 30 mil pessoas, muito por conta da evolução da infraestrutura do município. Fizemos para ela e para Barro Alto um SESI/SENAI. Em Barro Alto, também entregamos para a Prefeitura um plano de saneamento, feito em parceria com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Não fazemos o papel do Governo, mas ajudamos da forma como podemos.

ITM: Como está a meta de redução de emissões?
Ribeiro: Temos metas até 2015 e 2020. Não posso abrir números, mas posso dizer que estamos bastante confortáveis em relação a 2015. Ainda não atingimos a marca, mas estamos bem próximos disso, trabalhando de acordo com o cronograma. Somos também membro-fundador do Programa Brasileiro GHG Protocol ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, tentamos ajudar no controle de emissões dos gases do efeito estufa (GEE). Realizamos anualmente o inventário de nossas emissões que, desde 2012, alcançaram a classificação ouro com a auditoria da PricewaterhouseCoopers (PwC).

ITM: Quais mudanças de processo estão previstas para alcançar essas metas?
Ribeiro: Trabalhamos com os avanços tecnológicos para utilizar cada vez mais a biomassa como fator energético. Na Codemin, desde 2003, estamos substituindo parte do óleo combustível nos fornos de processamento, por cavacos de eucalipto, provenientes de nossas áreas de reflorestamento integradas ao sistema certificado na ISO 14001. Temos uma visão de tudo ser 100% renovável.

ITM45_PersonaGITM: Qual o planejamento futuro para a Unidade Níquel?
Ribeiro: Atualmente temos a planta industrial de Barro Alto (GO) em fase de ramp-up, para alcançar a capacidade nominal de produção. Temos também um projeto futuro, em Jacaré (PA), onde também será feita a exploração de níquel. Ainda se encontra em fase de obtenção de licenças, pois precisamos realizar novos estudos ambientais, o que levará, no mínimo, mais um ano. O que posso afirmar com tranquilidade é que cada projeto é um novo projeto, precisamos sempre desenvolver novos estudos. Nossa prioridade é identificar e realizar primeiramente os planos de ação, com um cronograma a ser seguido.

ITM: Os 30 anos de operação Codemin é um exemplo de sustentabilidade?
Ribeiro: Sem recursos, não há como minerar. No entanto, o avanço de tecnologia contribui decisiva-mente para a nossa permanência em Goiás. A atuação em Niquelândia (GO) começou em 1982 e o plano inicial mostrava que só poderíamos permanecer ali por, no máximo, 30 anos. Hoje, a Codemin prevê pelo menos mais 30 anos de atuação na cidade. O sucesso da planta deve-se, em grande parte, à cultura de melhoria contínua da empresa e ao plano de otimização de ativos, que prevê uma gama de ações em diferentes áreas para aprimorar a competitividade da companhia.

ITM: Quais os foram principais projetos de melhorias?
Ribeiro: Diversos, seja no aumento da produção, redução de uso de recursos naturais ou aproveitamento de resíduos. Alguns dos melhores exemplos são os projetos Codemin II e III, além da otimização dos recursos minerais de Codemin e Barro Alto, que permitiram a utilização da sinergia existente entre as plantas para aumentar a vida útil e melhorar os processos das duas operações. Após a implementação dos projetos de Otimização de Ativos na operação Codemin, houve um aumento de 5% na produção em 2011. O importante é que o longo período de trabalho em Niquelândia (GO) justifica a nossa presença também em Barro Alto (GO). O aprendizado é constante nos dois municípios e a experiência apenas aumenta.

ITM: O senhor citou muitas parcerias com ONGs. São elas então que canalizam as demandas sociais das comunidades?
Ribeiro: As comunidades podem entrar com pedidos de novos projetos ou programas dentro dos fóruns. Mas a prioridade é a formalização de parcerias mais institucionais. A Anglo American não trata esse trabalho como uma caridade e sim como um desenvolvimento social. A ONG Repro latina, em Barro Alto (GO), com o programa “Vivendo a adolescência com mais saúde”, por exemplo, reduziu o índice de jovens grávidas de 40% em 2010 para 16% em 2012. E agora está indo para Niquelândia (GO) também. É um investimento de mais de R$ 2 milhões ao longo dos últimos quatro anos, com participação de mais de 40 mil pessoas. O Instituto Cultural Barong, presente nas duas cidades, desenvolve um trabalho específico para prevenção da AIDS. Já a CARE Brasil, outra ONG, mais voltada ao empreendedorismo, promove rodas de leitura de acordo com os potenciais locais, com auxílio da tecnologia da Embrapa.

ITM: Que fatores o senhor considera primordiais para uma boa mineração?
Ribeiro: Acreditamos que exista realmente uma ‘licença social’, uma permissão, que as comunidades onde operamos nos proporcionam. Isso é conseguido quando mantemos o diálogo aberto e aplicamos, de maneira transparente, tudo que está em nossas convicções, em nossos valores corporativos. Quando este trabalho tem sucesso, a empresa passa a ser vista como parte da comunidade, um agente com impactos positivos.

(Junho/julho 2013)

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