ESTRUTURA PRODUTIVA DO MANGANÊS NO BRASIL

Por Mathias Heider[1]

Introdução

Depois do auge da mineração de ouro no século XVIII, o manganês surgiu como principal substância mineral na incipiente pauta de exportações do Brasil no final do século XIX, mantendo essa posição até a década de 1940, quando foram então superadas pelas de minério de ferro. As descobertas da mina de Serra do Navio (ICOMI), no Amapá, e Azul (CVRD, atual Vale), no Pará, mantiverem o destaque do Brasil como produtor e exportador desse bem mineral.

Conforme dados do USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), em 2019 o Brasil ocupava o posto de quarto produtor mundial de manganês (contido), passando para o sexto posto em 2020. Para exemplificar essa queda, Minas Gerais, produziu 926 mil toneladas de concentrado de manganês em 2008 contra 220 mil toneladas em 2020. Com a estimativa de exaustão da mina do Azul (Vale), prevista para 2025/26, e com o sucateamento do parque de ferroligas, que já produziu a um ritmo de 330 mil toneladas anuais, torna-se necessária uma profunda reavaliação das potencialidades da cadeia produtiva de manganês.

O manganês foi definido como mineral estratégico conforme  lista publicada no Diário Oficial da União, por meio da Resolução nº 2, de 18 de junho de 2021. O Comitê Interministerial de Análise de Projetos de Minerais Estratégicos (CTAPME) elencou os minerais de acordo com os critérios que constam do Decreto nº 10.657, de 24 de março de 2021: a) bem mineral do qual o País dependa de importação em alto percentual para o suprimento de setores vitais da economia; b) bem mineral que tenha importância pela sua aplicação em produtos e processos de alta tecnologia; ou c) bem mineral que detenha vantagens comparativas e que seja essencial para a economia, pela geração de superávit para a balança comercial do País.

  1. Estrutura produtiva

Em 2020, a produção de manganês no Brasil atingiu 2,4 Mt (contra 3,7 Mt em 2019). A queda pode ser explicada sobretudo pelo desempenho da produção no Pará, de 1,25 Mt, conforme pode ser observado na Tabela 1. Em 2019, o valor da produção mineral do manganês no Brasil foi de cerca de R$ 2 bilhões, gerando R$ 43,4 milhões em recolhimento da CFEM (contra R$ 26 milhões em 2020). Os teores médios do minério beneficiado reduziram de 43,54% em 2015 para 38,97% em 2019 (vide Tabela 1). As minas de micro e pequeno porte responderam por 8,12% da produção de manganês em 2020, com o inicio dos projetos em Tocantins. Em 2008, esse percentual atingira 3,15%, passando a 6,2% em 2010 e a 5.37% em 2014. A redução da produção das minas de grande porte em 2002 contribuiu para essa elevação.

Em 2020 havia 116 concessões para lavra de manganês no Brasil (Tabela 3). Os maiores produtores são a Vale (Mina do Azul/PA, Urucum/MS e Morro da Mina/MG) e a Mineração Buritirama/PA. A empresa Recursos Minerais do Brasil/PA iniciou suas operações em 2016. O estado do Ceará, a partir de 2018, surge como produtor de manganês (Libra Ligas, Zeus Mineração e Guimaraes Ramalho), com produção variando de 230 a 350 mil toneladas anuais. Tocantins registrou sua primeira produção, no total de 73 mil toneladas, em 2020 (Vulcano e BR Brazil). A empresa Meridian (que adquiriu os ativos da Cancana Resources e  BMC – Brasil Managanese Corporation), suspendeu em 2020 as operações de sua mina, que vinha sendo lavrada desde 2009, em Rondônia.

Ainda em 2020, elencamos as seguintes empresas ativas na produção de manganês: em Minas Gerais, a Mineração Pedra Menina/APERAM, Mineração Nogueira Duarte, Manganês Congonhal e WEG Mineração. Em Goiás temos a Proferro e, no Pará, a Eagle Minerais (veja Tabela 2).

Considerando o período de 2008 a 2019, vale citar as seguintes mineradoras (na sua maioria de micro e pequeno porte, com produção anual de até 10mil toneladas e de até 100 mil toneladas por ano, respectivamente), que apresentaram produção em determinado ano, mas estavam inativas em 2020: Mineração Vale do Jacaré, Herculano Mineração, Mineração Passos, MSM Mineração Serra da Moeda, GEOMIPE, Fervani Mineração, Manganês Nazareno, Waldyr Batista Veloso, Mineração Pedra Real, Tratex Mineração e L.M.A. Mineração, em Minas Gerais; Ambientar Mineração e GFX Mineração, na Bahia; Guimarães Ramalho, no Ceará; Wilson Machado Correia, Mineração Pedra Petra, Mineração Fronteira, Mineração Boa Vista e MC4 Mineração, em Goiás; Manganês Juara, Carlos Augusto Ribeiro da Silva e Geologia Mineração e Assessoria, no Mato Grosso; Mineração Irajá, no Pará; BMC/Meridian, em Rondônia; e Mil Mineração Itapira, em São Paulo.

TABELA1 manganes

TABELA1 manganes

Existem no Brasil cerca de 325 títulos minerários para lavra de manganês (veja Tabela 3).

TABELA3 manganes

Foi consolidada no Brasil uma rede de empresas voltadas à produção de ligas de manganês, conforme Anuário Metalúrgico divulgado pelo Ministério das Minas e Energia (MME). Em 2019, essa produção atingiu 151 mil toneladas, representando uma queda expressiva em relação aos picos de produção. As empresas de ferroligas em atividade são as seguintes: Grupo Maringá, Ferlig, Granha Ligas, Vale Manganês, Catálise Indústria e Comércio, Fertiligas e Prince Minerals, entre outras. A Vale fechou sua unidade de ferroligas de manganês, em Simões Filho (BA), em 2020. Em setembro de 2021, a mineradora também vendeu seus ativos de ferroligas de manganês em Minas Gerais (Barbacena, Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete) para o grupo VDL, um conglomerado empresarial que atua nos segmentos de transporte, mineração e siderurgia. Essa operação ainda depende da aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Figura 1 manganes

O mercado mais significativo para o manganês e suas ligas é o setor siderúrgico. No Brasil existem 16 empresas desse segmento, que respondem por 31 usinas siderúrgicas e 51 Mt de capacidade produtiva anual instalada. Estima-se que a cadeia siderúrgica utilize de 80 a 90% do manganês consumido no  Brasil. As indústrias química, de fertilizantes e farmacêutica também utilizam manganês.

  1. Conclusões e recomendações

 Com a exaustão estimada da Mina do Azul em um horizonte de 5 anos, o Brasil será pela primeira vez um player menos relevante no mercado internacional de manganês. À medida em que as minas de manganês entrarem em processo de exaustão, a cotação desse bem mineral tenderá a valorizar-se, o que, por sua vez, viabilizará ocorrências de menor porte e com maior custo de produção. O potencial uso do manganês em baterias para veículos elétricos impactará no consumo mundial, contribuindo  para  elevar os preços e a criticidade desse bem mineral. As novas perspectivas do manganês no mercado da energia portátil projetam um aumento de sua importância estratégica para o futuro.

Os desafios de escoar a produção de jazidas de minérios de manganês distantes dos centros siderúrgicos é um aspecto crítico, principalmente para minérios com teores mais reduzidos, que exigem a etapa de transformação em ferroligas.

O aproveitamento de rejeitos e finos de minérios, a reativação de minas suspensas ou inativas e a prospecção de novas áreas produtoras contribuirão para manter o parque siderúrgico brasileiro abastecido desse insumo essencial à produção de aço. Em 2021, a tendência da produção de manganês é de queda, já sinalizada pela redução do recolhimento da CFEM (R$ 12,4 milhões até outubro de 2021), projetando um valor da ordem de R$ 15 milhões, contra R$ 43,4 milhões em 2019 e R$ 26 milhões em 2020).

Apesar das 116 concessões de lavra ativas, poucas se encontram produtivas. Uma ação importante seria a realização de um diagnóstico dessas concessões, visando estabelecer a potencialidade e os impactos ao longo da cadeia produtiva (fluxos, teores dos concentrados, competitividade da operação, etc) do minério. No âmbito dessas concessões foram também identificados diversos depósitos de manganês de menor porte, com menor tempo de vida útil da mina (variando de 2 a 5 anos), que exigem políticas específicas para que sejam viabilizados.  Outro ponto é a reavaliação de toda a cadeia produtiva do manganês, incluindo as unidades de ligas metálicas, fundamentais para aproveitamento de minérios e concentrados de menor teor. Existe uma necessidade de avaliar o grau de criticidade do manganês no Brasil, visando reduzir a vulnerabilidade futura para atender a cadeia da siderurgia.

[1] Engenheiro de Minas da ANM/Sede

Referências e Sites consultados

DRUMMOND, José A. O manganês do Amapá – o seu papel no desenvolvimento regional e nacional (1957- 1998) ou quando um recurso estratégico não é tão estratégico. In: 110 ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS, II, maio 2004. Anais… São Paulo: Anppas, 2004. 35 p. DRUMMOND, José A.; PEREIRA, Mariângela de A. P. O Amapá nos tempos do Manganês: um estudo sobre o desenvolvimento de um estado amazônico – 1943-2000. Rio de Janeiro: Garamoud, 2007.

Fernandes, Francisco R. C. Os Maiores Mineradores do Brasil: Perfil Empresarial do Setor Mineral Brasileiro. Conselho Nacional de Pesquisa.CNPq. Brasília 1982.

LEONARDOS, O. H. (1957). “Problema brasileiro do manganês.” Engenharia, mineração e metalurgia. n.155. Minas Gerais, (s.ed), pp.271-276.

Sites

file:///C:/Users/Mathias/Downloads/Anu%C3%A1rio%20Estat%C3%ADstico%20do%20Setor%20Metal%C3%BArgico%202021%20ano%20base%202020.pdf

http://antigo.mme.gov.br/web/guest/secretarias/geologia-mineracao-e-transformacao-mineral/publicacoes/anuario-estatistico-do-setor-metalurgico-e-do-setor-de-transformacao-de-nao-metalicos

https://www.gov.br/anm/pt-br/assuntos/economia-mineral

https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-mineral/anuario-mineral

http://belgianclub.com.br/pt-br/heritage/mina-de-mangan%C3%AAs-no-morro-santa-cruz-%E2%80%9Cmina-dos-belgas%E2%80%9D-corumb%C3%A1ms

http://casteloroger.blogspot.com.br/2011/05/olhos-na-historia-exploracao-do.html

http://fusoesaquisicoes.blogspot.com.br/2016/07/ferrometals-vai-assumir-controle-de.html

http://revistas.face.ufmg.br/index.php/novaeconomia/article/viewFile/3962/2034

http://sedeme.com.br/portal/cadeia-de-manganes/

http://sedeme.com.br/portal/cadeia-de-manganes/

http://sites.poli.usp.br/geologiaemetalurgia/Revistas/Edi%C3%A7%C3%A3o%2019/completo19.pdf

http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-7006.pdf

http://www.abrafe.ind.br/abrafe/associadas

http://www.adimb.com.br/simexmin2016/palestra/auditorio_sao_joao_delrey_16/11h30%20Presentation%20Ouro%20Preto.pdf

http://www.catalisebrasil.com/

http://www.mme.gov.br/documents/1138775/1256650/P11_RT19_Perfil_da_mineraxo_de_manganxs.pdf/190c1abf-3223-4c19-9dfb-b267d06742c6

http://www.rondonia.ro.gov.br/manganes-de-rondonia-so-tem-similar-em-mina-australiana-afirma-mineradora-de-espigao-do-oeste/

http://www.sindiextra.org.br/arquivos/2012_02_14_00_50_16_Ferro_Ligas.pdf

http://www.thebhc.org/sites/default/files/beh/BEHprint/v024n1/p0164-p0175.pdf

https://acobrasil.org.br/site/dados-do-setor/

https://acobrasil.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/Mini_anuario_2020_completo.pdf

https://acobrasil.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/Mini_anuario_2020_completo.pdf

https://canaltech.com.br/inovacao/nova-bateria-de-fluxo-redox-feita-com-manganes-pode-durar-ate-20-anos-186200/

https://core.ac.uk/download/pdf/6519675.pdf

https://fusoesaquisicoes.com/acontece-no-setor/valecia-confirma-venda-dos-ativos-de-ferroligas-de-manganes-em-mg-para-vdl/

https://ibram.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Infografico-Mineracao-em-Numeros-2020-NOVO.pdf

https://ppgem.eng.ufmg.br/defesas/1402M.PDF

https://www.adimb.com.br/site/publicacoes_amazonia/indice/Cap_V.pdf

https://www.noticiasdemineracao.com/minerio-de-ferro/news/1419093/rmb-inicia-licenciamento-de-projeto-de-mangan%C3%AAs-de-ususd-200-milh%C3%B5es-no-par%C3%A1,

 

1 comentário em“ESTRUTURA PRODUTIVA DO MANGANÊS NO BRASIL

  1. Parabéns Mathias, excelente artigo. Será usado como base nas nossas análises de queda de arrecadação da CFEM. Obrigado, grande colega,

    Saudações

    Mônica Monnerat – CETEM

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.