Nesta entrevista exclusiva a revista In The Mine, depois de 21 anos passados na MRN (Mineração Rio do Norte), recém-chegado a Belo Horizonte (MG),  João  Paulo  ainda  aguardava  o  caminhão da mudança, que vinha pela Belém-Brasília. Com a didática de um professor, ele segue o fio condutor do ciclo integrado da produção mineral, alertando que esse processo começa onde aparente-mente termina – no cliente final do minério.

Planejamento
O planejamento de uma mineradora deve ser desenvolvido  tentando  visualizar  o  processo  produtivo do cliente final. As informações de qualidade, quantidade e prazo de entrega do minério de  que  esse  cliente  necessita,  precisam  migrar por toda a cadeia produtiva da mineradora e definir o planejamento estratégico e operacional, a pesquisa geológica e as análises de produto.

Confiabilidade
O primeiro passo é o plano de longo prazo – o chamado Plano de Exaustão ou LOMP (Life of Mine  Plan),  que  considera  as  reservas  e  recursos  da empresa,  incluindo  a  parte  operacional, necessidade de abertura de novas minas e questões ambientais, tributárias e de responsabilidade social. Depois temos o Plano de 5 Anos, por sua  vez  atualizado  a  cada  ano,  já  com  previsão de investimentos e margem de erro menor. Ele é decomposto em planos anuais nos quais, na medida em que se reduz o horizonte do plano maior, o que varia é a confiabilidade da informação, vi-sando  o  detalhamento  executivo  e  não  mais  de concepção do projeto. O plano anual é corrigido e revisado mensalmente e tem ajustes semanais, com acompanhamento contínuo da qualidade do minério extraído, através do laboratório de aná-lises químicas.

Questão social
Outro plano, também ligado ao de Exaustão, é o de Fechamento de Mina que, no geral, considera duas alternativas. Uma delas é deixar toda a infra-estrutura implantada para o projeto – que muitas vezes inclui vilas de funcionários, escola, hospital  e  vias  de  acesso  e  transporte  –  para  o município local. Outra, comparada a essa, é mui-to  mais  drástica:  remover  tudo  e  reflorestar  a área. Quanto às frentes de lavra, o ideal é que o fechamento de cada uma seja feito na medida em que a extração de minério é finalizada. Também é preciso contemplar a necessidade de fomentar na região uma atividade produtiva, já que o impacto social é muito grande, pois toda a economia local é estimulada pela mineradora.

Pesquisa
A  pesquisa  geológica  é  fundamental  dentro  do Plano  de  Longo  Prazo.  No  início  da  atividade de  mineração,  ela  é  realizada  com  uma  malha de sondagem bastante aberta (800 x 800 m, por exemplo), suficiente para a previsão de vida útil das reservas. Para efeito de planejamento, no entanto, ela tem de ser detalhada através de malhas mais fechadas. Caso se verifique descontinuidade ou variação súbita da camada de minério, ou ainda,  sua  contaminação  por  algum  material,  o melhor  é  ligar  o  “desconfiômetro”  e  fazer  novos  furos,  de  forma  a  comprovar  se  a  média  de espessura  da  camada se  mantém.  A  pesquisa  é  a  vanguarda  do processo  de  produção para  todo  o  seqüenciamento de mina.

Produção
O volume de produção é baseado sempre na demanda  de  mercado, considerando  o  índice  de recuperação  do  minério  para  estimar  o  volume bruto  de  extração.  Tomando  como  exemplo  a bauxita,  a  primeira  operação  matemática  a  ser realizada  é  a  divisão  desse  volume  bruto  pela densidade  do  minério,  informada  pela  pesquisa geológica, para obter o volume de lavra. Esse volume,  dividido  pela  espessura  média  da  camada de bauxita (outra informação da pesquisa) dará a área de influência da lavra. O  volume  de  capeamento  (também  informado pela pesquisa) que terá de ser removido, dividido pela  produtividade  dos  equipamentos  de  lavra, permite estimar a quantidade de máquinas/hora necessária. Com essa quantidade e recorrendo ao banco de dados da empresa, temos os custos de combustível e manutenção, para compor o orçamento. O dimensionamento da frota de máquinas também  vai  determinar  a  necessidade  de  mão-de-obra,  de  novas  contratações  e  treinamento, outros custos do orçamento.

Meio ambiente
É  preciso  intensificar  o  relacionamento  com os  órgãos  ambientais  e  demonstrar,  com  resultados reais, que a mineração, base da cadeia produtiva de toda a sociedade, é perfeitamente conciliável com o meio ambiente. Inclusive porque, a maior evolução que a mineração teve nos últimos anos, não foi apenas conceitual, mas de consciência ambiental e responsabilidade social, agregando esses novos valores a um segmento altamente competitivo.

(Março/abril 2006)