RECUPERAÇÃO DE MINÉRIOS ATRAVÉS DE MICRO-ONDAS

RECUPERAÇÃO DE MINÉRIOS ATRAVÉS DE MICRO-ONDAS

A New Wave International, empresa focada no desenvolvimento de rotas industriais e tecnologias inovadoras e sustentáveis para o setor minero-siderúrgico, desenvolveu uma técnica disruptiva, que já possui quatro patentes verdes concedidas pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). O Método Wave, como é chamado, realiza a segregação de minerais de baixo teor, não aproveitados pelos processos convencionais atuais de beneficiamento, por meio de micro-ondas, ou seja, empregando ondas eletromagnéticas de alta frequência.

Gustavo Emina, CEO da New Wave International
Gustavo Emina, CEO da New Wave International – (New Wave/Divulgação)

“Essa tecnologia permite, por exemplo, a recuperação de minérios, inclusive aqueles hoje considerados estratégicos, depositados em pilhas secas de estéril e em barragens. Os poucos rejeitos inertes restantes podem ser empilhados a seco, eliminando a necessidade de estruturas para seu armazenamento”, explica Gustavo Emina, CEO da empresa. Segundo ele, ainda, 99% dos ácidos empregados no processo podem ser reciclados e reutilizados, sem dispersão no ambiente.

Para quem não se lembra, Emina foi o fundador e CEO da New Steel, criada em 2007, que chegou a obter patentes em 20 países para a tecnologia pioneira de beneficiamento de minério de ferro a seco, a partir de sua recuperação em barragens de rejeitos. A empresa construiu e operou a primeira planta piloto de filtragem de rejeitos na Mina Fábrica, parte do Complexo Vargem Grande da Vale, em Ouro Preto (MG).

Em 2018, buscando sua internacionalização, a New Steel mudou sua sede para a Holanda e, no final do mesmo ano, foi adquirida pela Vale por US$ 500 milhões. Em 2022, a Vale já possuía outras três plantas baseadas na tecnologia New Steel: uma na mina de Brucutu (inaugurada em 2022) e duas no Complexo de Itabira (2021). A da Mina Fábrica passou a operar em escala industrial a partir de 2020.

Hoje, a New Wave International é uma holding que controla a New Wave Tech, a Wave Aluminium e a Wave Nickel. A New Wave Tech é seu braço tecnológico, tendo desenvolvido o Método Wave para beneficiamento de rejeitos de bauxita e para o aproveitamento de níquel laterítico de baixo teor, o que deu origem às outras duas empresas

Rotas e equipamentos

O processo utilizado pela Wave Nickel, fundada em 2020, consiste da pré-concentração a seco do minério bruto, que aumenta em 60% os teores de níquel contidos em rejeitos de barragens, com redução de 40% da massa. Na etapa seguinte, o produto é submetido a ondas eletromagnéticas, que tornam o níquel e o cobalto reativos e recuperáveis. Segundo Emina, a tecnologia possibilita a recuperação de outras substâncias minerais, como magnésio, cromo e manganês, além de produzir fosfato de ferro, insumo para a fabricação de baterias LFP (Lítio-Ferro-Fosfato), também de elevado valor de mercado. No caso da Wave Aluminium, criada em 2019, a rota de processo é semelhante, gerando produtos como ferro metálico, dióxido de titânio, sílica gel, alumina e escândio.

Os equipamentos empregados no Método Wave são os mesmos utilizados em processos convencionais. O diferencial está na adoção da tecnologia de micro-ondas, que promove a conversão pirometalúrgica dos óxidos de ferro, situando-se como núcleo do processo reacional. “A inovação não se limita ao uso da fonte de micro-ondas, mas se estende aos equipamentos que recebem essa energia de micro-ondas, desenvolvidos internamente pela New Wave Tech e que representam um avanço significativo no campo do processamento de minérios”, afirma Emina.

Segundo ele, a rota de processo já passou por testes em regime de bancada e de planta piloto, que comprovaram sua eficiência operacional e econômica. Além disso, seus riscos operacionais são mínimos, inclusive porque os principais equipamentos são modulares, o que assegura sua previsibilidade de performance em escala industrial, com desempenho seguro.

Em termos de sustentabilidade há ganhos de redução de gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO2), e de consumo de água e energia, somados aos da eliminação da necessidade de barragens e aos da economia circular. “O Método Wave consegue processar litologias minerais usualmente descartadas, gerando um volume menor de rejeitos secos e inertes que podem ser dispostos em pilhas”, diz o executivo. Sob o aspecto econômico, Emina assegura que as plantas industriais da New Wave requerem CAPEX e OPEX cerca de 50% menores que as baseadas em métodos tradicionais.

Companhia Níquel Tocantins adquirida da CBA pela Wave NickelCrédito: CBA/Divulgação
Companhia Níquel Tocantins adquirida da CBA pela Wave Nickel
Crédito: CBA/Divulgação

Aquisições e projetos

A Wave Nickel está finalizando a compra da Companhia Níquel Tocantins (CNT), localizada em Niquelândia, norte de Goiás, da Companhia Brasileira de Alumínio – CBA, por R$ 20 milhões. Os contratos definitivos foram assinados em abril de 2023 e a conclusão do negócio acontecerá após o cumprimento de condições contratuais pré-estabelecidas. A CNT, que teve suas operações paralisadas em 2016, ocupa uma área de 14 mil ha e, segundo a CBA, possui recursos de cerca de 55 Mt de níquel, contendo 0,94% Ni e 0,12% Co.

A expectativa é que a planta passe a operar em capacidade plena a partir de 2029. As instalações de beneficiamento serão configuradas para substituição do processo Caron, que era utilizado na CNT, pelo Método Wave, com produção estimada em 36 mtpa de concentrado MHP (precipitado de hidróxido misto), a partir do minério de níquel laterítico; 60 mtpa de concentrado de cromo; 28 mtpa de dióxido de manganês; e 112 mtpa de magnésio.

O processo Caron, indicado para o tratamento de minérios lateríticos de níquel como os encontrados na mina da CNT, envolve etapas de moagem, redução e lixiviação amoniacal do minério reduzido, seguidas de hidrometalurgia. Seu emprego é muito dependente de combustíveis fósseis, um dos fatores de seu alto custo de produção, e resulta em baixo rendimento, com recuperação próxima de 70% de níquel devido à baixa eficiência da etapa de redução, problema potencializado pela grande variabilidade do minério. A recuperação dos metais reduzidos é maximizada pela rota hidrometalúrgica que, na CNT, é de cerca de 96,5% para o níquel e de 70% para o cobalto.

Também a Wave Aluminium assinou um contrato com a Alunorte, refinaria de alumina da Hydro Brasil, em fevereiro de 2023, visando a construção de uma planta de processamento de resíduos de bauxita depositados em barragens, para a produção de ferro metálico sob forma de briquetes. A unidade será construída em Barcarena, no Pará, e terá capacidade para processar 50 mtpa de rejeitos de bauxita, podendo ser ampliada, futuramente para processar entre 2 e 4 Mtpa. O início das operações está previsto para o final de 2024. Segundo divulgado pela Hydro, o projeto contribui para sua meta de alcançar 10% de utilização da geração de resíduos de bauxita até 2030, eliminando a necessidade de novas estruturas para seu armazenamento até 2050.

Foto em destaque: Hydro Alunorte terá planta de processamento da Wave Aluminium
(João Ramid/Hydro)

 

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