PORTO FLAVIA: UM PROJETO LOGÍSTICO GENIAL

PORTO FLAVIA: UM PROJETO LOGÍSTICO GENIAL

Com operação iniciada em 1600 para a extração de carvão, enxofre, bário, zinco, chumbo e prata, entre outras substâncias, as minas de Masua, localizadas na Sardenha, Itália, ganharam relevância a partir de 1922, quando foram adquiridas pela empresa belga Vieille Montagne e tiveram sua produção de zinco e chumbo ampliada para atender às obras de reconstrução das cidades após a 1ª Guerra Mundial e ao novo mercado de ligas de aço.

Até 1924, o minério era carregado por marinheiros, em cestos de vime e levado por bilancelas, barco tradicional da região, até a Ilha Carloforte, onde era descarregado manualmente e embarcado nos porões de navios a vapor, rumo à fundições na França, Bélgica e Alemanha. A perda de várias bilancelas no mar tempestuoso, o tempo de carregamento dos navios, que podia chegar a dois meses, dependendo das condições climáticas, e os custos totais – incluindo os salários dos muitos trabalhadores e os preços dos barcos, navios e aluguel do cais, tornavam impraticável essa logística de transporte.

Em 1923, o engenheiro italiano Cesare Vecelli foi chamado pela mineradora para elaborar um projeto que otimizasse a operação. Sua solução – inédita e genial – foi utilizar uma área de mar bastante profundo e protegida dos ventos e ondas, para permitir a amarração segura de navios de grande porte, que receberiam a carga do minério escoado a partir de uma falésia por gravidade.

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Imagem 1

A obra consistiu da construção de dois túneis sobrepostos, com 600 m de extensão cada, ligados entre si por nove silos verticais (Imagem 1). O túnel superior foi perfurado com dinamite e brocas mecânicas, a partir do lado oposto do penhasco, a uma altura de 37 m, recebendo a infraestrutura da ferrovia elétrica. Quando a obra alcançou a face do penhasco, diante do mar, os operários pendurados em cordas começaram a perfurar o túnel inferior, 21 m abaixo da primeira galeria e 16 m acima do nível do mar. Nas laterais dos dois túneis foram feitas aberturas para ventilação interna. Já os silos, com diâmetro entre 4 e 8 m, altura de 20 m e capacidade para cerca de 11 mil t de minério, foram escavados diretamente na rocha basáltica e equipados com escotilhas mecânicas de ferro em seu topo e base.

No túnel superior, o minério processado era trazido por um trem elétrico (Foto 1, em destaque no alto da página, e Foto 2) e descarregado nas escotilhas do alto dos silos.

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No túnel abaixo, uma correia transportadora recebia o material, escoado pelas escotilhas inferiores dos reservatórios (Foto 3), levando-o a outra correia transportadora, com comprimento de 16 m e extensível.

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No final dessa segunda correia, o pó de minério era canalizado em um poço vertical até o porão do navio atracado no sopé da falésia (Fotos 4 e 5). Um sistema inovador de alinhamento móvel instalado no transportador principal evitava que a correia se soltasse das rodas motrizes sob a pressão da queda do minério. Já a correia transportadora extensível tinha um invólucro de aço para impedir a dispersão do pó de minério pelo vento e era recolhida após o carregamento do navio.

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Com tempo recorde de construção, o sistema entrou em operação em 1924, reduzindo o tempo de carregamento do navio para apenas dois dias e os custos de produção da mineradora em 70%. No mesmo ano nascia Flavia, a filha de Vecelli, que acabou dando nome ao porto. Com a exaustão das jazidas, na década de 1990, as minas de Masua foram fechadas. As mais antigas, assim como o porto, estão sob a gestão da IGEA SpA, estatal que administra e preserva o patrimônio histórico mineiro da Sardenha (Foto 6).

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Créditos: Imagem 1, Fotos 4 e 5 (ASM/IGEA SpA); Foto 1 (escursi.com); Foto 2 ( Sardegna Turismo); Foto 3 (mybestspace.com); e Foto 6 (Magnus Mundi)

 

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