PLANÍCIES ABISSAIS NO FUNDO DO MAR

PLANÍCIES ABISSAIS NO FUNDO DO MAR

Assim são chamadas as vastas áreas existentes no fundo do mar, a profundidades entre -3,5 mil e -6 mil. Uma dessas planícies é a Zona Clarion-Clipperton (CCZ), na região do Oceano Pacífico, que tem sido disputada por empresas de mineração marinha dada a abundância de nódulos polimetálicos nela contida – nada menos que 21 Mt, segundo estimativa do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Esses nódulos, formados durante cerca de um milhão de anos, são ricos em minerais hoje estratégicos para a transição energética, como manganês, cobalto, níquel e cobre.

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Equipamentos especialmente projetados para operar sob as severas condições da CCZ – altas profundidades, elevada salinidade, ausência total de luz e temperaturas abaixo de 2ºC -, realizam uma varredura na área, usando técnica semelhante à da dragagem, para coletar os nódulos e bombeá-los para um navio fundeado na superfície através de uma tubulação com 5 km de comprimento. Essa tecnologia de ponta, em tese e a princípio, não afetaria o ecossistema marinho. Só que não.

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Junto com os nódulos são coletados sedimentos cuja descarga, quando devolvidos ao fundo do oceano, terá um impacto muito maior que o de uma nuvem de poeira. Há também a poluição sonora e luminosa causada pelas máquinas, que também acabam compactando o solo, esmagando diversas formas de vida que nele germinam, sem contar outras tantas que fazem dos nódulos sua habitação. O desequilíbrio ambiental pode afetar, ainda, a subsistência de comunidades pesqueiras e costeiras da região.

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Desde 1994, quando foi criada pela ONU (Organização das Nações Unidas), é a ISA – Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, formada por 167 estados-membro e pela União Europeia, quem deve avaliar e conceder a autorização para a mineração marinha, em até dois anos a contar de seu requerimento pela empresa interessada. Se esse prazo se esgotar, o projeto poderá ser iniciado, mesmo sem autorização. Desde 2021, a pequena República de Nauru, país insular da Oceânia e parceiro da mineradora DeepGreen Metals faz essa contagem regressiva e pode, a qualquer momento, requerer uma concessão mineral da ISA. Até hoje, a entidade só emitiu licenças de pesquisa, visto que ainda não regulamentou a atividade.

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O Reino Unido, contrário ao prazo de autorização, incentivou a criação do projeto Smartex – Seabed Mining and Resilience to Experimental Impact, com a participação de instituições como o Museu de História Natural de Londres, o Centro Nacional de Oceanografia e o Serviço Geológico Britânico. O projeto já realizou duas expedições à ZCC, a mais recente concluída em março de 2024, fotografando e coletando amostras de espécies, para identificação e estudos que servirão, inclusive, para nortear as futuras decisões da ISA.

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Esse trabalho trouxe à luz alguns habitantes do oceano profundo. Entre eles, o porquinho-do-mar rosa Barbie (Foto 1), o peixe rattail (Foto 2), o transparente Unicumber (Foto 3), a esponja de vidro (Foto 4), o filhote de pepino-do-mar (Foto 5) e um briozário de grande ramificação, que usa um nódulo polimetálico como base de sustentação (Foto em destaque). Há muito mais espécies – entre 6 e 8 mil, diz o USGS – a serem descobertas na CCZ. Como poderão a mineração marinha e suas tecnologias realizar-se sem destruí-las?

Fotos: Smartex

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