PESQUISA MINERAL: AVANÇOS, MAS AINDA COM MUITOS DESAFIOS

PESQUISA MINERAL: AVANÇOS, MAS AINDA COM MUITOS DESAFIOS

Por Marcos André Gonçalves1, Roberto Perez Xavier2 e Augusto César Bittencourt Pires3

Em nível global, o desempenho do setor mineral no primeiro semestre de 2021 sentiu os efeitos das restrições à mobilidade derivadas da pandemia de Covid-19 que se estendem desde 2020, com decréscimo de investimentos, particularmente em projetos de pesquisa mineral. Essa tendência não foi diferente no Brasil com empresas suspendendo ou adiando programas de pesquisa de não-ferrosos, metais base e preciosos, em estágios greenfield e brownfield. Contudo, projetos mais avançados, em sua maioria continuaram ativos, eventualmente com um ritmo menor de atividade.

Com a implementação das campanhas pró-vacina contra o Covid-19 e sua ampliação em dose dupla, juntamente com os preços atrativos dos commodities de metais base, preciosos e do minério de ferro, acompanhada de um aumento da demanda por insumos minerais, os projetos de pesquisa mineral foram gradualmente retomados em 2021. O setor mineral brasileiro tem acompanhado esta tendência e, desde meados de 2021, é notória a movimentação de equipes de prospecção em várias províncias minerais como Carajás, Tapajós, Alta Floresta, Borborema, Tocantins, Rondônia, Sul-Riograndense, etc.

Os investimentos em pesquisa mineral no Brasil em 2021 têm seguido a tendência mundial, sendo predominantemente realizados por empresas de grande porte e em projetos de estágios mais avançados. Já os investimentos por empresas de pequeno porte e juniors foram comparativamente menor, mas não menos importantes, com destaque para a Centaurus (níquel, no Pará), Serabi (ouro, no Pará), Amarillo Gold (ouro em Goiás e no Rio Grande do Sul), Jaguar Mining (ouro no Quadrilátero Ferrífero), Largo Resources (vanádio, na Bahia), Equinox (ouro na Bahia e no Maranhão) e Aura Minerals (ouro no Mato Grosso e Tocantins).

Em nível governamental, o ano de 2021 também foi marcado pela continuação das rodadas de oferta pública de direitos minerários pela ANM, pelos leilões de ativos minerários do Serviço Geológico do Brasil – CPRM no âmbito do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) e pelas Consultas Públicas para regulamentação da oferta do título minerário em garantia, em qualquer de suas etapas de vigência, com efeitos diretos na pesquisa mineral. Vale ressaltar, ainda, a iniciativa conjunta entre MME/SGM e entidades do setor mineral para a criação da Rede Colaborativa para Financiamento da Mineração – Invest Mining, que busca criar ambiente de fomento à mineração e pesquisa mineral, similar ao adotado em outros países.

Em 2022, um fator que poderá ser determinante no aporte de maiores investimentos na pesquisa mineral, em nível global, é a crescente demanda por metais/minerais amplamente utilizados no desenvolvimento de tecnologias para a geração de energia menos dependente da emissão de carbono, a exemplo do lítio, cobalto, níquel, cobre, grafita, etc.

Há também a expectativa de que o setor mineral brasileiro possa ter investimentos de até US$ 40 bilhões, entre 2021 e 2025, na pesquisa e produção de minério de ferro, alumínio, minerais fertilizantes, cobre e ouro. Em contraponto, há desafios a considerar nos próximos anos para reforçar a credibilidade do país a potenciais investidores externos e internos, como: (1) melhoria contínua do ambiente de negócios e seguimento da política de desregulamentação e transparência em vigor; (2) ampliação do conhecimento geológico das províncias minerais em escalas que possam auxiliar decisões estratégicas na pesquisa mineral; (3) maior agilidade, transparência e consistência na liberação de licenças para pesquisa pela ANM; (4) melhor infraestrutura, em particular a transmissão de energia, em áreas de alto potencial para a implementação de minas; (5) ações que promovam o financiamento da pesquisa mineral no Brasil, em especial para pequenas e médias empresas; (6) considerar como crítica a questão ambiental, uma vez que a região Amazônica é uma grande fronteira mineral do Brasil, possuindo atualmente 52.000 licenças da ANM cobrindo 1.340.000 km2, o equivalente ao Peru.

1 Presidente do Conselho Superior; 2 Diretor executivo e 3 Coordenador de projetos da ADIMB – Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro
Fotos: ADIMB/Divulgação

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