2015: UM ANO PARA FAZER A LIÇÃO DE CASA

 perspectivasdestaqueParafraseando o livro 1968, no qual o jornalista e escritor Zuenir Ventura relata os fatos ocorridos naquele ano, é possível afirmar que 2015 é um ano que ainda não começou. Em um setor que depende de investimentos intensivos, como a mineração, os negócios seguem um fluxo próprio e independente das paralisações sazonais que marcam a cultura empresarial brasileira, como as viradas de ano e carnaval. Este ano, entretanto, uma conjunção de fatores impõe um ritmo peculiar à mineração.

A indefinição quanto ao marco regulatório do setor, um assunto que, aparentemente, permanecerá em segundo plano no Congresso Nacional diante do furacão de acontecimentos que vem ameaçando a estabilidade política do país, é apenas um ponto a se considerar. Mais do que esse fator, que desestimula investimentos em pesquisa e prospecção mineral, a redução nas atividades do setor deve ser atribuída à desvalorização de commodities minerais, principalmente no segmento de ferrosos, impulsionada pela desaceleração econômica da China.

Diante desse cenário, a maioria das grandes mineradoras programa ajustes na operação para manter posições já conquistadas no mercado, mesmo porque muitas delas acabam de concluir ciclos extensos de investimentos. Novos projetos estão fora dos planos nesse momento, à exceção daqueles já em estágio avançado de implantação. Obviamente, esse cenário acaba impactando o desempenho dos fabricantes de equipamentos para mineração em diferentes níveis, em função dos segmentos que operam e da relevância de seus produtos para o processo. Veja, a seguir, as expectativas de alguns dos principais players do setor para 2015.

Mineradoras

Ao anunciar que reduziria pela metade os dividendos distribuídos aos acionistas em 2015, a Vale deu o tom da mineração brasileira para este ano. A notícia foi bem recebida pelo mercado financeiro, que reconheceu a medida como um ajuste necessário.

Outro ajuste foi a redução nos investimentos que, em seu relatório aos investidores, a empresa avalia que permitirá alocar melhor os recursos em projetos de classe mundial, que contribuam para sua competitividade. Dos US$ 6,3 bilhões previstos para novos projetos, 71% estão na área de minério de ferro, com destaque para a expansão de Carajás e os projetos de itabiritos no Sistema Sul (Conceição, Campo Grande e Cauê).

Após concluir em 2014 o projeto Quarta Pelotização, que consumiu investimentos de R$ 6,4 bilhões, a Samarco projeta para este ano aportes mais modestos, em pilhas de estéreis e barragens de rejeitos, para a continuidade da operação. Mesmo assim, a mineradora espera atingir uma participação de 24% no mercado transoceânico de pelotas de minério de ferro, contra os 21% obtidos em 2014 e os 19% em 2013. A mineradora credita essa expansão ao fato de a quarta pelotizadora, instalada no complexo industrial de Ubu (ES), operar todo este ano a plena capacidade.

Situação semelhante vive a Mineração Usiminas, que concluiu os investimentos para ampliar sua produção a 12 milhões t/ano de minério de ferro. “Para este ano, as previsões são de investimentos correntes, para melhorias na operação, além de substituirmos parte da frota de equipamentos de lavra, como perfuratrizes, escavadeiras e caminhões fora de estrada”, afirma Wilfred Theodoor Bruijn, diretor executivo da mineradora.

Sem citar números, ele diz que as expectativas são de aumentar a produção e as vendas na comparação com 2014, embora as exportações estejam condicionadas à inauguração do Porto Sudeste, em Itaguaí (RJ), prevista para meados deste ano. “Como ainda não temos certeza quanto à data definitiva da abertura do  porto, calibraremos o volume de produção de acordo com esta data, o que inviabiliza estabelecer números para produção e vendas”, completa o executivo.

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Rubens Rela

Terceira maior mineradora de amianto crisotila do mundo, a Sama estima encerrar 2015 com uma produção de 271 mil t de minério, dos quais 52% serão consumidos no Brasil e 48%, exportados para 19 países. O diretor geral da Sama, Rubens Rela, diz que a demanda interna, atendida exclusivamente pela empresa, vem se mantendo estável graças à qualidade e ao baixo custo que o amianto agrega ao produto final. “Devido às controvérsias que existem sobre o nosso produto, o foco principal é a busca pela excelência e temos evidências para mostrar à população que é viável e seguro produzir amianto crisotila”, diz ele.

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Rodrigo Vilela

A Anglo American também está concluindo um de seus maiores projetos em âmbito global, a implantação do Sistema Minas-Rio, que produzirá 26,5 milhões t/ano de minério de ferro a partir de 2016. “O sistema entrou em operação em outubro de 2014 e atualmente se encontra na fase de ramp-up, com previsão de atingir, de forma segura e responsável, sua capacidade máxima de produção na data pré-estabelecida”, afirma Rodrigo Vilela, diretor de operação do Sistema Minas-Rio. Para 2015, a previsão é de atingir a produção de 13 milhões t/ano de minério.

Fabricantes

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Jair Machado

Em um cenário como este, no qual as mineradoras focam nos grandes projetos já em implantação e adiam novos aportes, com exceção daqueles que contemplem ajustes e melhorais à operação, é natural que os fabricantes sintam o reflexo.

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Oswaldo Delfim

Para Oswaldo Delfim, gerente de negócio processamento mineral da Haver & Boecker, a demanda em 2015 continuará estagnada, o que desestimula investimentos da empresa. “Em contrapartida, nos anos de desaquecimento econômico é comum haver um crescimento em termos de manutenção e reformas de máquinas e essa é nossa aposta”, afirma Jair Machado, gerente comercial da área de mineração da Liebherr.

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Gustavo Avelar

Gustavo Avelar Rodrigues, líder comercial de mineração da Caterpillar Global Mining no Brasil, segue o mesmo raciocínio ao apontar os investimentos feitos em conjunto com os concessionários para aumentar o suporte em projetos como S11D, da Vale, e a expansão da mina Casa de Pedra, da CSN. “Acabamos de concluir investimentos de R$ 400 milhões no quadriênio 2011/2014, para aumentar a capacidade produtiva da fábrica de Piracicaba (SP), e este ano teremos lançamentos específicos para o setor de mineração, como a carregadeira de pneus 994K, a escavadeira hidráulica 6020B, o caminhão articulado 745C e a perfuratriz MD5150C”, diz ele.

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Marcelo Motti

Para Marcelo Motti, vice-presidente da Metso Brasil, “este ano será marcado pela busca de excelência operacional e de oportunidades em serviços”. Por esse motivo, a empresa concentrará os investimentos na capacitação do pessoal e na instalação de seu novo centro de serviços em Minas Gerais, cujas obras deverão iniciar em breve. “As expectativas são de um ano similar ao de 2014, pois nossos principais clientes continuarão perseguindo melhorias de performance e otimização dos custos operacionais”, ele pondera.

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Luis Carlos Franco Monegatto

Já a Kepler Weber, que em 2014 estreou no mercado de mineração, espera ampliar as atividades nesse mercado em função da sua proporção no conjunto de negócios. “Participamos de um número significativo de projetos de clientes que são verdadeiros formadores de opinião no setor”, pondera Felipe Maciel, gerente de marketing da empresa. Ele destaca que, após concluir investimentos de R$ 65 milhões na modernização de sua fábrica, a Kepler Weber prosseguirá este ano com aportes em automação dos processos. “Por esse motivo, nos próximos três anos nossa oferta estará muito mais completa no sentido de atender à demanda das mineradoras com produtos mais robustos e de maior capacidade”, ele completa.

Ao completar 12 anos de atuação no Brasil em 2015, a sueca SSAB reitera sua confiança no mercado. “Sabemos que a questão de redução de custo e aumento de produtividade são cada vez mais importantes para as mineradoras, por isso apostamos na utilização de materiais de maior resistência à abrasão, que aumentam a disponibilidade de seus equipamentos”, ressalta Luiz Monegatto, gerente geral de vendas para a América do Sul e Atlântico. Focada na oferta de aços de alto desempenho, a empresa acaba de concluir a aquisição da usina finlandesa Rautarukki e, no Brasil, inaugurou seu terceiro centro de distribuição em Contagem (MG), em março.

Os entrevistados desta edição da In The Mine são unânimes em apontar o grande potencial do mercado brasileiro, o que justifica os ajustes adotados em cada empresa, de acordo com sua realidade e peculiaridades próprias, de forma a prepará-las para a retomada nas atividades, prevista para 2016. Se cada um fizer a lição de casa corretamente, incluindo o governo nos necessários ajustes da economia e do setor mineral, 2015 poderá ser lembrado não como um ano perdido, mas como um ponto de inflexão no qual o setor retomou seu rumo. (Por Por Haroldo Aguiar)

 

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