Em Minas Gerais, na cidade de Sabará, a produtora de ouro AngloGold Ashanti (AGA) opera o Complexo Cuiabá Lamego, composto das minas Cuiabá, com 1.700 m de profundidade, e Lamego (850) m, ambas lavradas pelo método sublevel stoping. Em Crixás, Goiás, fica a Mineração Serra Grande, com as minas Corpo IV (904 m de profundidade); Ingá (979 m); III VQZ (1.145 m); Pequizão (565 m) e Nova (154). Nesse conjunto, a lavra também é feita por meio do método sublevel stoping, exceto pela Mina Nova, que emprega o sistema de câmaras e pilares.
Sem registros de fatalidade desde 2018, o Complexo Cuiabá-Lamego recebeu, em 2024, o Global Safety Award. O prêmio, instituído pelo próprio grupo e itinerante entre suas operações e projetos na América do Norte e do Sul, África e Austrália, é um reconhecimento às melhorias expressivas dos indicadores de segurança de trabalho registradas no ano, explica Francisco Biulchim, superintendente de Mineração da AGA. Entre os marcos em destaque estão a redução de 48,88% da TRIFR (Taxa de Frequência de Acidentes com Afastamento); o aumento de 1,73% no desempenho SPP, refletindo um ambiente operacional mais seguro e eficiente; e o crescimento de 7,14% na taxa de fechamento de ações de incidentes, significando maior agilidade na resposta a riscos identificados.

É uma conquista significativa, se considerada principalmente a profundidade atingida pela mina Cuiabá, que torna os desafios operacionais – em especial, ventilação, contenção do maciço rochoso e logística da unidade – ainda mais críticos. “São características comuns à lavra subterrânea, onde o risco de choco, a presença de gases nocivos, a interação homem-máquina e perigos associados à eletricidade podem comprometer a segurança dos empregados e a eficiência das operações”, avalia Biulchi.
Evolução e inovação
Os problemas foram minimizados ao longo dos anos com a evolução significativa da infraestrutura das minas subterrâneas, impulsionada por avanços tecnológicos, pelo aprimoramento das condições de segurança e pelo aumento da eficiência operacional. Além do aperfeiçoamento dos sistemas de ventilação, dos métodos de contenção do maciço e da logística e transporte no interior da minas, Biulchi inclui a crescente automação e digitalização dos processos, em particular com o monitoramento online de equipamentos e operações.
“O monitoramento on-line de ventilação, bombeamento, refrigeração e segurança, aliado à digitalização das operações, proporciona um controle preciso das condições de trabalho, reduz os custos operacionais e aumenta a produtividade. E o mais importante: tornou a infraestrutura da mina subterrânea mais segura, eficiente e sustentável”, justifica o superintendente de Mineração. Segundo ele, no caso da AGA, essas soluções tecnológicas reduziram entre cerca de 80 a 90% os principais riscos operacionais das unidades, minimizando a probabilidade de acidentes.

Com uma política de investimentos contínuos e robustos em inovação tecnológica, a empresa adotou ou está implementando produtos e processos de última geração para otimizar suas operações. Um deles é a primeira carregadeira elétrica de subsolo do Brasil, que reduzirá de forma drástica as emissões de gases poluentes e o calor gerado na operação. Outro benefício desse tipo de equipamento é a eliminação do uso de combustíveis fósseis, diminuindo os custos operacionais e a necessidade de ventilação intensa para dissipar os gases de exaustão. O aumento da frota de carregadeiras e caminhões elétricos, inclusive, é objeto de estudos avançados na mineradora, diz Biulchi.
Também foram implementados sistemas inteligentes de ventilação sob demanda, que permitem o ajuste dinâmico do fluxo de ar conforme a necessidade do ambiente. Para isso, sensores instalados ao longo das galerias monitoram a qualidade do ar e a presença de trabalhadores e equipamentos, regulando automaticamente os ventiladores. A tecnologia garante condições de trabalho seguras e reduz em até 50% o consumo energético, tornando a operação mais sustentável e eficiente.
O desmonte também passou a ser realizado detonadores wireless (sem fio), que permitem um controle mais preciso da fragmentação da rocha, com menores riscos associados a falhas nos sistemas convencionais de iniciação. De forma segura, a detonação remota pode ser realizada em locais protegidos e não exige o uso de longas redes de cabos, o que minimiza interferências operacionais.
Outra inovação foi a execução do reforço estrutural da mina com concreto projetado de alta resistência, de maior aderência e com maior durabilidade, eliminando a necessidade de manutenções frequentes. Em paralelo, o uso de tirantes de maior capacidade, a aplicação de telamento fogo a fogo no desenvolvimento da lavra, tornam a contenção do maciço mais eficiente, prevenindo quedas de blocos e aumentando a estabilidade das galerias. Toda a mina tem monitoramento geotécnico em tempo real.

Outro fator crítico é o treinamento dos funcionários, muito mais rigoroso e especializado que o destinado a uma lavra a céu aberto. Diferenciais exigidos para o trabalho em minas subterrâneas, como a adaptação ao ambiente confinado, o uso correto de equipamentos de segurança e a preparação para emergências são essenciais para garantir a segurança dos empregados e a eficiência das operações.
Hoje, diz Biulchi, há vários outros projetos em andamento para a otimização e expansão da infraestrutura das minas da AngloGold Ashanti no Brasil. “São projetos sempre alinhados com os pilares de inovação, eficiência e sustentabilidade da companhia, reforçando seu compromisso com os princípios de ESG (Meio Ambiente, Sociais e de Governança), com prioridade máxima para a segurança dos trabalhadores, a redução do impacto ambiental das atividades e o exercício de uma mineração cada vez mais responsável”, conclui o superintendente.