RAIO-X DAS EMPRESAS DE MINERAÇÃO NO BRASIL

Glaucia

Consolidar e dimensionar o universo da mineração brasileira é um instigante desafio. Para contabilizar o número de empresas de mineração no Brasil, os critérios mais comuns geralmente envolvem diferentes aspectos do setor e variam conforme a fonte de dados e a metodologia utilizada para segmentação, tais como:

  • Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) ativo com respectivo CNAE para produção e comercialização de minérios;
  • Registros na Agência Nacional de Mineração (ANM);
  • Porte da empresa;
  • Tipo de Atividade;
  • Status de Desenvolvimento, dentre outros.

O Portal da Geoinformação Mineral da ANM (https://geo.anm.gov.br/portal/home/) apresenta todas as áreas de processos minerários registradas e a distribuição da mineração no Brasil (Figura 1), permitindo o uso de diversos filtros.

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Figura 1 – Ilustração da distribuição da mineração no Brasil – Portal da Geoinformação Mineral da ANM (data: 04/04/2025).

Por este levantamento, teríamos um total de mais de 38 mil titulares produzindo bens minerais com os títulos de concessão de lavra, licenciamento e permissão de lavra garimpeira. Empresas que operam sob o regime de autorização de pesquisa com guia de utilização, que poderiam ser contabilizadas e acrescidas a este universo, caso estejam ativas e com recolhimento de CFEM.

Em comparação com levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração de 2018, com os dados de 2018, verificou-se grande aumento do número de empreendimentos, como visualizado na Tabela 1.

Tabela 1 – Evolução do número de títulos minerários no Brasil, em fase de produção

 

FASE 2019 2025 VARIAÇÃO
CONCESSÃO DE LAVRA 9.415 13.207 + 40 %
LAVRA GARIMPEIRA  1.820 3.206 + 79 %
LICENCIAMENTOS 13.250 20.434 + 54 %
COMPLEXOS DE ÁGUA MINERAL 830 1.425 + 71 %

Fazendo uma análise mais criteriosa sobre estes dados, sabe-se que uma operação mineira pode agrupar CNPJs diferentes, de subsidiárias de uma mesma empresa, co-operação de empresas contíguas e sinérgicas, Joint Ventures e outros acordos comerciais e contábeis, que constituem apenas um complexo produtivo.

No final de março de 2025, a TSX Venture Exchange, principal bolsa de valores mundial em número de listagens do setor mineral, que detem 43 empresas em operação no Brasil (de um total de 116), realizou o primeiro Capital Pool Company (CPC) Roadshow no Brasil, com a presença de uma delegação de investidores canadenses interessados em avaliar projetos e equipes de gestão de minerais críticos e de transição energética do Brasil (incluindo energia renovável e clean tech), que desejam se listar e levantar capital nos próximos 6 a 18 meses. Procuram 15 projetos brasileiros, com os seguintes critérios: projetos com equipe de gestão sólida, qualidade do ativo (relatório NI 43-101 pronto, em andamento ou previsto) e critérios ESG.

Neste momento, em que há grande expectativa do mercado de selecionar os projetos de mineração de maior potencialidade para receber aporte de investimentos, surge a pergunta que não quer calar…

Quais são as Minas ativas e Projetos brasileiros estão classificados sob as temáticas de:

  • transição energética e descarbonização (cobalto, cobre, estanho, grafita, lítio, manganês, minério de terras raras, minérios do grupo da platina, molibdênio, nióbio, níquel, silício, tântalo, titânio, tungstênio, urânio, vanádio e zinco);
  • fertilizantes (fosfato, potássio e calcário – minerais fundamentais para a fertilidade do solo) e remineralizadores;
  • ouro
  • ferro
  • outros?

Quantos projetos precisam de capital e estão prontos e aptos? 

Para iniciar esta resposta, indico o novo veículo de informação do setor mineral – o  MAPA IBRAM ® (https://ibram.org.br/mapa-ibram/Figura 2).

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Figura 2 – Ilustração do MAPA IBRAM ® (https://ibram.org.br/mapa-ibram/)

Com quase 50 mil visualizações atingidas nos 30 primeiros dias desde sua divulgação durante o BRAZILIAN MINING DAY, que aconteceu durante o PDAC 2025, em Toronto/Canadá, o MAPA IBRAM ® disponibiliza os dados de forma interativa e dinâmica (Google MyMaps®), apresenta informações georreferenciadas e a navegação pode ser feita pelos tópicos de interesses e menus:

  • Associados IBRAM
  • Commodities
  • Projetos
  • Mina ativa (agrupada por tema: transição energética e descarbonização, fertilizantes e remineralizadores, ouro, ferro e outros)

O MAPA IBRAM® não inclui bens minerais de uso na construção civil (agregados, argilas e outros insumos para indústria cerâmica, rochas ornamentais, calcário para cimento), gemas e água mineral, exceto de empresas associadas ao IBRAM.

Ao clicar sobre cada ícone do mapa, uma série de informações é apresentada para cada ponto:

  • Nome da empresa e nome da mina/projeto
  • Commodity principal e secundária
  • Grupo Empresarial
  • Status da mina (ativa ou projeto)
  • Tipo da operação (céu aberto ou subterrânea)
  • Município/UF
  • Associação ao IBRAM
  • Sede da empresa e website.

Alguns projetos e minas ativas de empresas listadas em bolsas de valores também indicam informações sobre porte, se está listada como single ou dualisting e o ticker da bolsa em que está listada (dados provenientes do mapa das empresas listadas – www.geoansata.com.br/listadas)

A compilação desses dados é um trabalho contínuo. Após a primeira revisão das informações, pós lançamento (abril/2024), foram obtidos os números indicados na Tabela 2.

Tabela 2 – Número de empresas de mineração (minas ativas e projetos, associados IBRAM

 

CLASSE Abril/2025
EMPRESAS DE MINERAÇÃO 277
ASSOCIADOS IBRAM 89
MINAS ATIVAS 287
            CÉU ABERTO 251
            SUBTERRÂNEA 30
            CÉU ABERTO / SUBTERRÂNEA 6
PROJETOS 208

 

A periodicidade das próximas revisões ainda será definida, a depender das novidades, aplicação de novos filtros e mudanças de status dos empreendimentos.

O desenvolvimento do MAPA IBRAM ® foi feito pela equipe da GeoAnsata, que utilizou informações das seguintes fontes de consulta:

  • Cadastro Mineiro e SIGMINE | ANM;
  • Revista In The Mine – Mapa da Mina 2024;
  • Revista Brasil Mineral – As Maiores Empresas do Brasil;
  • Revista Minérios & Minerales – 1000 Maiores Minas Brasileiras;
  • Websites das empresas de mineração;
  • Mapa da Mineração Brasileira (2018) – AHK Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Alemanha (https://www.ahkbrasilien.com.br/projetos/mineracao/mapa-da-mineracao-brasileira);
  • Pisani, J.R.T.; Modesto, A.A.L.; Cuchierato, G. Mapeamento das empresas de mineração listadas em bolsas de valores com operações no Brasil. Simexmin, 2024;
  • GeoAnsata – Mapa das empresas listadas (www.geoansata.com.br/listadas);
  • GeoAnsata – Mapa das minas subterrâneas (www.geoansata.com.br/subterraneas).

Ainda não é possível responder integralmente, com um simples clique, quantos e quais projetos e minas brasileiras tem maturidade técnica e de gestão para serem listados em bolsas de valores nacional e internacionais, bem como para atrair fundos de investimentos privados ou outros mecanismos, como o Fundo de Investimento em participações (FIP) Minerais Estratégicos no Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mas creio que em breve teremos mais visibilidade das ações do setor mineral brasileiro, inclusive da pauta ESG, e do processo de adequação para atendimento às boas práticas recomendadas internacionalmente das empresas que conduzam seus projetos como itens importantes de estratégia.

Enquanto isso, o país se prepara para ser o palco de grandes transformações, com novas oportunidades de crescimento e inovação que se abrem para o setor mineral. E assim, seguimos desvendando o universo particular de possibilidades da mineração brasileira.

1Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia

 

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