O ANO QUE NÃO TERMINOU
A crise se espalhou pelo mundo como um vírus de internet. Os “hackers do subprime” realmente fizeram um bom trabalho e, passados alguns meses, parece não haver firewall que resolva. Más notícias e demissões se sucedem na indústria e, no caso da mineração, parece que regredimos, de uma hora pra outra, da idade do ferro à da pedra lascada.
Sim, porque, a princípio, somente o segmento produtor de insumos para construção civil – agregados especificamente – tem revelado fôlego para manter volumes crescentes de produção. E ainda assim porque há uma corrida presidencial em andamento e até uma Copa do Mundo lá na frente quase a garantir investimentos em infra-estrutura.
Nos demais, com honrosa exceção do ouro, o mais que se ouve falar é desinvestimento, postergação, revisão e mesmo cancelamento de projetos. O ano de 2008 provavelmente entrará para a história como o da perplexidade, aquele em que muitas empresas, que iam de vento em popa, cancelaram até mesmo o “churrasco” de final de ano.
Como se não houvesse mais horizontes, como se as trombetas tivessem soado o final dos tempos, como se o mundo pudesse prescindir de minério, como se os norte-americanos tivessem, filosoficamente, decidido aderir ao frugal sistema tradicional chinês – o da cuia de arroz e do chá sem açúcar – e não o contrário.
É certo que existe um desajuste – uma crise, vá lá – e o mais pessimista só terá a argumentar que não se sabe quanto tempo irá durar. Depois, a tendência é que o mundo entre nos eixos. Portanto, não se justificam medidas de afogadilho, como, por exemplo, a demissão em massa de geólogos.
Esta edição mostra, por exemplo, o quanto o Brasil terá a perder se descontinuar o trabalho de pesquisa mineral. A mineração é e sempre será uma indústria de longa maturação. Se o mercado hoje é uma incógnita, que o setor aproveite então para fazer a lição de casa – no plano empresarial, legal ou institucional. E com certeza, nesse sentido, há muito trabalho pela frente.
Wilson Bigarelli, editor@inthemine.com.br